Economia

Projeto solidário de Fábio Porchat 'socorre' pequenos empresários na pandemia

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Pequenos negócios que foram ameaçados pela crise provocada pela pandemia registraram crescimento após campanha estrelada pelo ator e humorista. Projeto chegou à segunda edição com promessa de continuidade. Fábio Porchat fala do projeto de apoio a micro e pequenas empresas diante da pandemia
Um “empurrãozinho”. É assim que o ator, apresentador e comediante Fábio Porchat classifica o projeto que criou para socorrer pequenos e microempresários diante da crise provocada pela pandemia do coronavírus. Cinco empreendimentos foram beneficiados pela iniciativa em 2020 e outros três foram selecionados para a segunda edição, lançada no final de abril deste ano.
Batizado Divulga Porchat, o projeto consiste em tornar o ator – que tem mais de 5,9 milhões de seguidores nas redes sociais – o garoto-propaganda de marcas desconhecidas pelo grande público. Além de contarem com o uso da imagem de Porchat sem ter que pagar cachê, as pequenas e microempresas (PMEs) selecionadas ganharam toda a campanha publicitária, que foi desenvolvida por uma agência profissional.
Três pequenos negócios foram selecionados para ter, gratuitamente, Fábio Porchat como garoto-propaganda em 2021
Reprodução/Instagram
VÍDEO: Fábio Porchat anunciou no Encontro que faria propaganda de graça para PMEs
O projeto é modesto, se considerado o alcance dele: em maio de 2020, havia cerca de 17,2 milhões de PMEs ativas no país. De acordo com uma pesquisa realizada em fevereiro deste ano pelo Sebrae em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), mais da metade destes pequenos negócios relatou muita dificuldade em se manter após quase um ano de pandemia e seis em cada dez deles viram o faturamento anual ser reduzido em pelo menos 1/3 no ano passado. (veja mais detalhes da pesquisa ao final desta reportagem)
Mas, para as oito PMEs selecionadas, o projeto representou mais que a garantia de sobrevivência – todas as cinco atendidas em 2020 registraram crescimento dos negócios e as três que participam da atual segunda edição experimentaram aumento da demanda tão logo foram anunciadas pelo ator.
É o caso da Mei Mei Produtos Naturais, empresa paulista especializada na produção de chás e artigos diversos feitos com ervas. Ela foi apresentada pelo ator durante uma live em seu perfil no Instagram no dia 22 de abril e, segundo os donos, imediatamente começou a registrar aumento nas vendas.
“A nossa demanda aumentou consideravelmente e já está perto do que era antes da pandemia. Não só clientes novos, mas os antigos também voltaram a fazer pedidos com a gente”, contou o empresário Carlos Lopes, que comanda a empresa junto com a mulher, a naturopata Mei Machado – ambos com 43 anos de idade.
‘Pânico’ na pandemia
Havia cinco anos que o casal mantinha a Mei Mei. Sem loja física, a empresa contava com 39 pontos de revenda espalhados pelo Brasil. Com a pandemia, caiu para seis o número de revendedores – impacto direto das medidas de restrição ao funcionamento de comércio e serviços pelo país para conter o avanço da Covid-19.
“A gente entrou em pânico, porque estávamos em um ritmo de crescimento anual. Mesmo com o mercado dizendo o contrário, a gente crescia. De repente, a gente se viu sem nada”, destacou Carlos.
Questionada, Mei confidenciou que, diante do revés provocado pela pandemia, “todos os dias” pensava em desistir do negócio. Em vários períodos, a empresa ficou sem vender nada durante 15 dias. “Teve momento de não querer levantar da cama. Desde a live [com Fábio Porchat], não teve um dia que a gente ficou sem vender algo”, enfatizou a naturopata.
Live com os donos da Mei Mei foi realizada no dia 22 de abril e, desde então, empresa registra aumento nas vendas
Reprodução/Instagram
A seleção para participar do Divulga Porchat pegou o casal de surpresa. A inscrição no projeto foi realizada em junho do ano passado e durou apenas 24 horas. Os interessados tinham que gravar um vídeo dizendo por que a empresa merecia ter Fabio Porchat como garoto-propaganda. Segundo Porchat, mais de 8 mil inscrições foram recebidas, mas apenas cinco foram selecionadas para a primeira edição. Para 2021, o ator decidiu não reabrir inscrições e selecionar outras três empresas dentre as que se candidataram no ano passado.
“Foi uma surpresa muito boa, porque a gente nunca imaginou que seríamos selecionados. O Porchat falou que faria de novo uma seleção em 2021, mas a gente não estava esperando por ser chamados”, contou Mei.
Campanha foi criada com base em briefing definido pelos próprios donos do negócio
Divulga Porchat/Divulgação
Depois de contatado pela equipe de Porchat, o casal teve duas semanas para se preparar para a live com o ator, ocasião em que a Mei Mei foi apresentada aos seguidores dele. Este período serviu para a elaboração, por parte dos dois empresários, da proposta de campanha que desejavam para a empresa.
“Ele [Porchat] deu total liberdade para a gente fazer o briefing e determinar o tipo de campanha que a gente queria fazer. A gente decidiu usar o nome dele para brincar com o nosso negócio – pôr chá. E a agência está tratando a gente como cliente”, contou Mei.
As outras duas PMEs selecionadas para esta edição do Divulga Porchat são:
Era uma vez o Mundo – startup carioca de educação que fabrica brinquedos e cria representatividade afro-brasileira para crianças.
Naturale – loja de alimentos naturais em Santa Catarina que produz refeições saudáveis
Startup carioca fabrica brinquedos com identidade afro-brasileira
Divulga Porchat/Divulgação
Empresa de Santa Catarina especializada em produção de refeições saudáveis é uma das três selecionadas para o projeto
Divulga Porchat/Divulgação
Virada de chave: ‘empurrãozinho’ levou pizzaria a abrir filial
Uma das cinco PMEs selecionadas para a primeira edição do projeto foi a Fitzza, pizzaria idealizada por três jovens cariocas com o objetivo de “promover reeducação alimentar” a partir de versões “fit” da clássica iguaria italiana. A marca começava a se firmar quando começou a pandemia e colocou o negócio em risco. Um ano depois do “empurrãozinho” do Porchat, no entanto, ela se prepara para abrir uma filial e já planeja uma terceira loja ainda em 2021.
“Quando estourou a pandemia, a gente ainda era uma marca nova e a loja teve que ser fechado. A gente então começou a batalhar para se estabelecer no delivery enquanto via muita pizzaria mais velha fechando com seis meses de pandemia. A gente nunca chegou a pensar em desistir, mas o Divulga Porchat foi a grande virada de chave do nosso negócio”, contou Rodolpho Bandeira, de 30 anos, o mais velho do trio de empreendedores.
A Fitzza começou em 2017, quando os três amigos tiveram a ideia de fazer uma pizza fit. O primeiro passo para o negócio aconteceu no ano seguinte, com o trio “colocando a mão na massa, literalmente”. Segundo Rodolpho, eles produziam a massa na bancada da cozinha de um deles e a levava para assar e servir em eventos pelo Rio. “A logística era difícil, porque a gente fazia tudo, da massa à operação nas festas”, enfatizou.
Foi só em junho de 2019 que a Fitzza ganhou uma loja física. Ela foi instalada no Arpoador, um dos endereços mais nobres da Zona Sul carioca. Nove meses depois teve início a pandemia – bares e restaurantes ficaram proibidos de funcionar na capital fluminense por mais de três meses.
Divulga Porchat garantiu visibilidade e credibilidade para marca carioca de pizza fit, que cresceu a ponto de abrir filial um ano após campanha
Reprodução/Instagram
O anúncio da seleção para o Divulga Porchat surgiu como oportunidade de mudar os rumos do negócio que tendia a naufragar como muitos dos concorrentes. Os sócios se debruçaram na produção do vídeo de inscrição durante a madrugada. Uma vez selecionada, a pizzaria registrou um verdadeiro salto – o faturamento aumentou em quase 40% entre agosto e outubro, período em que a campanha estrelada por Porchat foi ao ar.
“[O resultado da campanha] surpreendeu a gente porque foi uma ‘key chance’, uma verdadeira virada de chave para o nosso empreendimento. A gente vive num mundo de influências e essa transferência de autoridade [visibilidade e credibilidade de Porchat] é um negócio que tem muito poder”, enfatizou Rodolpho.
Mais do que o aumento no faturamento, a Fitzza alcançou, segundo os sócios, reconhecimento e credibilidade da marca. “A gente passou a ter outra maneira de falar com fornecedores e parceiros e acabamos fazendo uma ampliação da sociedade. Entraram dois novos sócios, um deles investidor, e agora a gente pode expandir o negócio”, comemorou Rodolpho.
A loja do Arpoador segue aberta, toda remodelada. A primeira filial será aberta ainda neste semestre na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, e os sócios planejam abrir a segunda filial, até o fim do ano, na Zona Norte da cidade.
Resultados das outras PMEs que participaram do projeto em 2020:
Cocadas da Vovó Lina, empresa familiar especializada em produção de cocadas caseiras: triplicou o número de seguidores nas redes sociais em cinco meses; aumentou o faturamento em mais de 1000% em três meses.
Labareda Boutique, loja que inovou o conceito de sexshop no Mato Grosso do Sul: registrou aumento de quase 31% no número de seguidores em cinco meses; contratou mais duas pessoas para conseguir atender ao aumento da demanda e viu o faturamento aumentar em quase 39%.
Bem Feito Carteiras, marca que produz carteiras artesanais e veganas: registrou salto do número de seguidores e viu o faturamento voltar a patamar semelhante ao período pré-pandemia.
Clube de Brinquedos Tum Tum, clube de assinatura de brinquedos especializados para crianças com autismo: viu os acessos ao site triplicarem e pessoas não ligadas à causa do autismo se interessarem pelo negócio.
Seleção criteriosa
Ao G1, Fábio Porchat contou que sua equipe teve muito trabalho para selecionar as empresas que participariam do projeto dentre as mais de 8 mil inscrições. A primeira filtragem foi para selecionar apenas PMEs que estavam funcionando e de forma regular. Outros critérios e restrições foram aplicados até que chegar a uma lista de 30 pequenos negócios.
“Dessas 30, a gente entrou em contato com algumas, fizemos encomendas, pedimos algumas coisas, sem estar no meu nome, lógico, para ver como é que chegavam os produtos”, destacou o ator.
Além do teste como cliente oculto, as 30 empresas também tiveram a reputação checada nas redes sociais “para saber como elas lidavam com os clientes”. Porchat ressaltou que das cinco selecionadas ao final da checagem, “uma delas acabou sendo descartada, e a gente chamou outra, justamente porque teve algum tipo de problema”.
Porchat destacou que, ao convocar as pequenos e microempresários selecionados, procurou, desde o início, minimizar as expectativas. “Eu falava ‘gente, não esperem que porque eu vou ser o garoto propaganda que vocês vão vender 1 milhão de coisas, a gente está numa pandemia, as pessoas estão sem dinheiro, as pessoas estão necessitadas’”, contou.
Mas o ator tinha a segurança de que iria oferecer a eles algo que é fundamental nos dias de hoje: visibilidade. Além de usar seu próprio perfil nas redes sociais para divulgar as marcas e doar a sua imagem para a campanha publicitária de cada uma delas, ele também fez propaganda delas nos mais diversos meios.
“Eu fiquei muito feliz de ver a repercussão que deu, como isso ajudou essas empresas e como incentivou outras pequenas empresas a continuarem”, contou.
Diante do sucesso do projeto, Porchat garantiu que fará uma terceira edição dele e que pretende continuar a fazer ações semelhantes mesmo após a pandemia.
“Com toda a certeza haverá uma terceira edição, porque funcionou. É uma coisa que eu quero continuar fazendo mesmo depois da pandemia. Claro que a pandemia é um ponto muito crítico, muito imediato, mas mesmo pós-pandemia as pessoas ainda vão estar necessitadas, ainda vão estar sobrevivendo, ainda vão estar catando os cacos do que foi a pandemia”, disse.
Impacto da pandemia sobre as PMEs
Em fevereiro, o Sebrae, em parceria com a FGV, realizou a 10ª edição da pesquisa “O impacto da pandemia do coronavírus nos pequenos negócios”. Mais de 6,2 mil pequenos empresários, de todos os 26 estados brasileiros e do Distrito Federal foram ouvidos. Os principais resultados do levantamento foram:
65% das PMEs tiveram redução de 1/3 no faturamento anual em 2020;
Para a maioria (66%) das PMEs, vendas de fim de ano foram piores que as de 2019;
Extensão de linhas de crédito (45%) e extensão do auxílio emergencial (26%) são as medidas governamentais mais importantes para 2021, segundo as PMEs;
79% das PMEs afirmaram que estão sofrendo diminuição do faturamento em 2021;
11% das PMEs tiveram que fazer demissões
49% das PMEs buscaram empréstimo e 39% conseguiram o crédito;
57% das PMEs relataram muitas dificuldades para manter seu negócio.