Economia

Por que a cebola e o tomate ficaram mais caros em janeiro?

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Problemas climáticos na safra das hortaliças fazem preços voltarem a subir após uma leve queda no início de dezembro. Cenário pode melhorar com o aumento da oferta com novas colheitas. Preço da cebola e do tomate subiram 17,58% e 4,89% respectivamente em janeiro de 2021.
Reprodução/Redes Sociais
Problemas climáticos e intervalo de safra encareceram a cebola e o tomate no mês de janeiro, mas a expectativa é de melhora nos preços pelos próximos meses, afirmam especialistas.
As duas hortaliças foram destaque de alta no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de janeiro, divulgado nesta terça-feira (9). O IPCA, que mede a inflação oficial do país, subiu 0,25% no mês passado, liderado pelo grupo dos alimentos, que avançou 1,02%.
A cebola disparou 17,58% em relação a dezembro; o tomate aumentou 4,89%.
Os dois alimentos já vinham de uma alta em 2020, acumulando no ano crescimentos de 14,49% e 52,76% (a cebola e o tomate, respectivamente). O novo aumento dos preços acontece desde a segunda quinzena de dezembro, depois de uma leve baixa nos seus valores no início do mês passado.
Entenda o que aconteceu.
Cebola
Os altos preços da cebola são causados por uma falta de oferta do legume no mercado, por causas de problemas durante o seu cultivo.
As dificuldades começaram em setembro e outubro, quando houve uma seca durante o período de plantio, como explica a pesquisadora Marina Marangon, do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Esalq-USP:
“Teve um problema de seca nas plantações do Sul. Depois, durante o período de desenvolvimento, algumas áreas foram atingidas por granizo, principalmente em Santa Catarina, e ainda teve chuvas em alguns períodos da colheita”.
A pesquisadora diz que a baixa oferta também está sendo gerada pelo período úmido durante a estocagem, que acontece agora. A umidade acaba favorecendo a possibilidade de desenvolvimento de fungos nos produtos, diminuindo a sua qualidade.
Por causa da pouca oferta das cebolas nacionais no mercado foi preciso aumentar a importação das cebolas chilenas em janeiro e, agora em fevereiro, das cebolas argentinas, para abastecer os consumidores.
Para as próximas safras a situação parece mais otimista. “Por causa do tempo seco, outras regiões acabaram plantando mais, então é provável que a gente tenha um maior volume de cebola disponível, uma maior oferta e aí uma diminuição de preços”, relata Marina.
Porém, ainda é preciso esperar: “Mas o plantio acabou de acontecer, pode ser que chova durante o desenvolvimento, então não dá pra ter tanta certeza”, comenta a pesquisadora.
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Tomate
Ana Maria Braga usa colar de tomates no programa “Mais Você” por causa do aumento no preço da fruta.
Reprodução/TV Globo
O tomate, que já vinha de forte alta em 2020, teve nova subida nos preços provocada por um intervalo de safra concentrado no início do mês de janeiro, afirma o pesquisador João Paulo Deleo, que também é do Cepea (Esalq-USP).
Contudo, os valores da hortaliça já estão em queda com a retomada da colheita em algumas regiões do Brasil. E a expectativa é de preços menores em fevereiro.
“No início de janeiro, algumas regiões entraram em intervalo de safra, como a região de Itapeva, em São Paulo, e a região de Reserva, no Paraná. Então a oferta diminuiu e o preço aumentou”, diz Deleo.
Já na segunda metade do mês passado, produtores de Santa Catarina – estado onde a safra do tomate está em seu pico – começaram a colher a hortaliça, ao mesmo tempo em que a região de Itapeva (SP) retomou a produção.
“Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, também está colhendo bastante”, afirma o pesquisador, indicando expectativas melhores ao consumidor neste mês.
Fim do auxílio emergencial
No ano passado, com o auxílio emergencial o poder de compra do consumidor estava maior e com isso era possível encher mais o carrinho do supermercado. Apesar do fim desta renda extra para a população e o aumento nos preços, Deleo não acredita em uma queda no consumo das hortaliças:
“Quando há uma queda de renda, os primeiros produtos que as pessoas deixam de comprar são os mais caros, como as proteínas animais, por exemplo, que têm um peso maior na cesta”, diz.
“As hortaliças são alimentos essenciais de baixo valor agregado. Mesmo com preços altos, elas são mais baratas que as carnes, por exemplo”, acrescenta Deleo.
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A pesquisadora Marina Marangon, do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Esalq-USP, as dificuldades vêm desde setembro e outubro, quando ainda era período de plantio: