Energia termelétrica é mais cara, o que gera reflexo nas contas de luz. Agência Nacional de Energia Elétrica prevê para 2021 maior aumento médio das tarifas desde 2018. Dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) apontam que a quantidade de energia gerada por usinas termelétricas em janeiro deste ano foi a maior para o mês desde 2015 e a segunda maior para o mês desde o início da série histórica do ONS, que começa em 1999 — somente abaixo do resultado de 2015.
A energia gerada por termelétricas — que dependem de combustíveis como óleo e gás natural para produzir — é mais cara que a das hidrelétricas. Isso se reflete diretamente em aumento nas contas de luz.
De acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), os consumidores pagaram, somente em janeiro, R$ 1,29 bilhão a mais nas contas de luz, por meio das bandeiras tarifárias, para cobrir o custo extra gerado pelo uso mais intenso das termelétricas.
Essa elevação no uso de energia térmica ocorreu devido à escassez de chuva entre o final de 2020 e o início de 2021— ou seja, em pleno período úmido no Sudeste e no Centro-Oeste, regiões que abrigam as principais hidrelétricas do país.
Essa situação levou a uma forte queda no volume de água armazenada nos reservatórios dessas hidrelétricas.
Quando isso acontece, o governo precisa poupar a água desses reservatórios e reduz a produção de energia pelas hidrelétricas. Para compensar e conseguir atender à demanda de energia, é obrigado a acionar mais as termelétricas.
Aumento nas contas de luz
A Aneel já prevê que as contas de luz no Brasil devem ter em 2021 o maior aumento médio desde 2018.
Procurado, o ONS informou que o país vive um “cenário de escassez” no setor elétrico que “merece atenção e acompanhamento constante”. O operador negou, entretanto, o risco de faltar energia no país (leia mais abaixo).
Nível de reservatórios no Centro-Oeste e no Sudeste é o mais baixo para janeiro em 6 anos
Termelétricas
No primeiro mês de 2021, o Brasil registrou geração de 13.436 megawatts (MW) médios de energia termelétrica. Isso representou 18,8% de toda a energia consumida no Brasil naquele mês.
Considerando-se apenas meses de janeiro, esse volume só não é maior que o registrado em 2015, quando o país precisou produzir 15.447 MW médios por meio dessas usinas, o que correspondeu a 22,3% de toda a eletricidade demandada naquele mês pelos consumidores.
Eólicas
Porém, entre 2015 e 2021 houve aumento significativo na presença de fontes alternativas de energia na matriz elétrica brasileira, especialmente a eólica (aproveitamento dos ventos para geração de energia), que triplicou no período.
Em janeiro de 2015, as eólicas responderam por 3,1% da energia consumida pelos brasileiros. Em janeiro de 2021, por 10,6%.
A expectativa do ONS é de que a geração eólica no país cresça 26,7% até o fim de 2025.
De acordo com Paulo Pedrosa, que já foi secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, diretor da Aneel, conselheiro do ONS, e atualmente preside a Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace), sem o parque eólico atual, a geração termelétrica em janeiro deste ano provavelmente teria sido maior.
Cenário de escassez
Em nota, o ONS afirmou que o aumento do uso de térmicas “vem sendo necessário por garantia energética” e que, entre setembro de 2020 e fevereiro de 2021, “foi registrada a pior afluência no Sistema Interligado Nacional (SIN) em 91 anos de histórico” — afluência é a quantidade de água que chega aos reservatórios das hidrelétricas.
“Ou seja, o cenário merece atenção e acompanhamento constante, de maneira que sejam tomadas as melhores decisões usando os recursos existentes. Justamente, para fazer frente ao cenário de escassez, desde 17 de outubro de 2020, em função da evolução das condições hidroenergéticas, com a autorização do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), vem sendo efetivado o despacho do parque térmico disponível, bem como a importação de energia da Argentina e do Uruguai”, informou o ONS.
De acordo com o operador, o uso de termelétricas no país, e a consequente pressão sobre as tarifas de energia, vai continuar durante o mês de março, já que o CMSE decidiu manter o uso mais intenso de termelétricas “de forma a preservar a recomposição dos reservatórios” das hidrelétricas.
“Essas medidas, que continuarão a ser reavaliadas periodicamente, sempre priorizarão o uso dos recursos termelétricos de menor custo, conforme necessidade, concomitantemente à esperada recuperação do armazenamento dos principais reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste e Sul ao longo da estação chuvosa em curso”, diz a nota.
Segundo o ONS, como a matriz elétrica brasileira é diversificada, não há risco de desabastecimento de energia elétrica no país.
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