Economia

Economista prevê retomada total do emprego na RMC em 10 anos e defende política pautada no gasto

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Análise do cenário da Região Metropolitana de Campinas após impacto da crise encerra série de reportagens em parceria do G1 com o Observatório PUC-Campinas. Eliane Navarro Rosandiski, economista do Observatório PUC-Campinas
Fernando Evans/G1
A recuperação tímida do emprego, com alta rotatividade, mudança do perfil de contratações e perda de milhões na massa salarial deve afetar por anos a economia da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Na opinião da economista Eliane Navarro Rosandiski, do Observatório PUC-Campinas, a retomada do trabalho formal aos níveis pré-crise pode levar ao menos 10 anos no cenário atual de crescimento. Como saída, a especialista pede uma construção coletiva para estimular o desenvolvimento regional e defende uma política “pautada no gasto, e não na poupança”.
Na reportagem que fecha a série do G1 sobre a crise econômica na RMC, a especialista indica as possíveis saídas por meio de políticas públicas que estimulem o desenvolvimento.
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“A recuperação do emprego formal, nos níveis que estavam antes da crise, talvez leve uns 10 anos. A ocupação, que é a taxa de pessoas trabalhando, pode ser que cresça mais rápido”, afirma.
Segundo a especialista, esse crescimento da informalidade gera pouco efeito para movimentar a “roda da economia.”
“Cresce mais o informal do que o formal por causa da barreira de custo. Com a carteira assinada, há o limite do salário mínimo. No informal, sem regulação, você contrata por R$ 400 por mês. Mas isso significa incapacidade de geração de gás para a economia. Não tem mobilização para consumo”, explica.
Na análise de Eliane, com essa nova relação de trabalho, com aumento da informalidade e diminuição do poder de compra, alguns segmentos não terão chance de se recuperar da crise por simples falta de demanda.
E agora? Economista opina sobre como será a recuperação de empregos na RMC
Economia do gasto
Entre as políticas públicas de flexibilização de leis trabalhistas e incentivos pontuais ao consumo, como as liberações de recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), a professora de economia da PUC defende uma mudança de visão para estimular o desenvolvimento.
“Economia não é a ciência da poupança, é a ciência do gasto. Nós temos que entender o gasto como o gerador da dinâmica econômica.”
Eliane destaca que o mercado dá sinais de que há demanda por consumo represada. O que falta é o famoso “poder de compra”. Com os trabalhadores recebendo cada vez menos, seja pela informalidade ou por contratações formais com salários menores ao praticados antes da crise, faltam estímulos ao setor produtivo que, por consequência, deixa de produzir e gerar novos empregos.
Ainda segundo a professora, uma das provas de que a flexibilização das leis trabalhistas pouco impacta na economia são os ciclos anteriores de crescimento, que ocorreram com todas as garantias que o trabalho formal previa. Eliane lembra que a RMC chegou a ultrapassar a barreira de 1 milhão de pessoas com carteira assinada, número que agora está na casa dos 970 mil.
“Não são os direitos trabalhistas que são os entraves, é a falta de consumo. Quando a gente olha pelo custo, não estamos enxergando a real crise que existe. A ‘mercadoria trabalho’ tem uma única característica. É custo e receita futuro. Para quem o empresário vai vender o produto depois?”, questiona.
A economista do Observatório da PUC lembra que as liberações para saques de contas inativas e ativas do FGTS por parte do governo federal dão mostras da necessidade represada de consumo. O problema é que esse tipo de recurso é apenas um estoque, não um fluxo contínuo na economia. Assim que o dinheiro acaba, o impacto cessa.
“Veja o exemplo do 13º salário. O consumo reage. O empresariado espera esse recurso e se prepara para ele. Agora imagine essa massa salarial incluída no mercado mensalmente, isso geraria mais emprego, mais consumo”, pontua.
Eliane Rosandiski defende uma economia pautada no gasto
Fernando Evans/G1
Construção coletiva
Na visão da especialista, uma saída para a crise é a construção coletiva do empresariado da RMC em busca de estratégias para estimular a economia. Passando por um salto de desenvolvimento, a China, que traça metas de crescimento, serve como exemplo.
“Eles tem planos quinquenais, estabelecem metas do que fazer, aprender a desenvolver, gerar capacidade de competir. É preciso um planejamento. Pode ser chefiado pelo Estado ou por alguma entidade que represente a região, como é o caso da Agemcamp, pela RMC”, opina Eliane.
Segundo a economista, na necessidade de estimular a geração de empregos, algumas estratégias devem ser evitadas, como a guerra fiscal entre cidades para receber novas companhias.
“Trazer uma empresa para o município com grande isenção gera outros impactos. Cada vez que uma empresa vai de um lugar para outro, leva consigo a capacidade de gerar emprego, fornecedores”, conclui.
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