Meio Ambiente

Conhecido pelas cachoeiras e trilhas, parque de RO que será reduzido tem histórico de invasão e até emboscada contra a polícia

Conhecido pelas cachoeiras e trilhas, parque de RO que será reduzido tem histórico de invasão e até emboscada contra a polícia thumbnail

Criada em 1990, unidade (que abrange as cidades de Nova Mamoré e Guajará-Mirim) tinha uma área de 216.568 hectares. Com redução feita pelo governo, nova área é de 200 mil hectares. Parque Estadual de Guajará-Mirim, em Rondônia
Luis Paulo/Flickr
Mesmo sendo conhecido como ponto turístico de Rondônia, o Parque Estadual Guajará-Mirim, que terá sua área reduzida conforme nova lei, possui um extenso histórico de invasões e conflitos.
Criada em 1990, a unidade de conservação (que abrange as cidades de Nova Mamoré e Guajará-Mirim) tinha uma área de 216.568 hectares para serem protegidos pelo poder público.
Ao longo dos anos a vegetação do parque foi se tornando um atrativo no estado, por causa de suas cachoeiras e trilhas verdes, além de ser o abrigo de espécies de animais ameaçados de extinção. Com a “fama” pública, o Parque Guajará acabou sendo o primeiro a ser aberto à visitação no estado, em 2017.
Governador aprova lei que reduz áreas de reservas florestais e cria novos parques
Parque Guajará-Mirim é conhecido por cachoeiras
Vanessa Moura/Arquivo pessoal
Mas as invasões, desmatamentos e queimadas se tornaram uma ameaça para a fauna e flora local.
A devastação da área aumentou depois de 2014, quando nove quilômetros de estrada foram abertos dentro do parque (o objetivo era tirar Guajará e Nova Mamoré do isolamento causado pela cheia do Rio Madeira).
Dois anos mais tarde após a instalação da estrada, já em 2016, o Sistema de Proteção à Amazônia (Sipam) identificou aumento de desmatamento, através das imagens de satélites. À época, foram descobertas 67 áreas de desmatamento dentro do Parque Estadual Guajará.
Trilhas em reservas e parques foram descobertas por vários satélites
Rede Amazônia/ Reprodução
Em 2017, uma operação prendeu o suspeito de ser um dos maiores invasores do parque Guajará. Luciano Jordão, conhecido como Zarolho, liderou um grupo para desmatar uma área de 500 hectares e assim construir uma vila chamada de Terra Prometida.
O ano de 2017 também foi o pior para o parque, em relação ao desmatamento, quando se registrou 2.484 hectares de área derrubada da floresta, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Já no ano seguinte, 2018, mais suspeitos foram presos por invadir e construir uma cerca dentro da unidade de conservação.
A situação na região ficou mais crítica em 2020, quando invasores dentro do parque armaram uma emboscada contra a Secretaria de Estado do Desenvolvimento Ambiental (Sedam), Polícia Civil e Polícia Militar Ambiental, durante uma fiscalização na área.
Invasores armam emboscada contra polícia durante fiscalização
Rede Amazônica/Reprodução
Pedido para redução de área
Com a invasão e permanência de pessoas dentro parque ao longo dos anos, em setembro de 2020 o governador Marcos Rocha elaborou um projeto para reduzir a área limite do Parque Estadual de Guajará.
No pedido, enviado à Assembleia Legislativa, o estado disse que “como o parque é ocupado por diversos grupos sociais e desenvolvem atividades incompatíveis com os objetivos da unidade de conservação”, manter os atuais limites da reserva iria impossibilitar a gestão do poder público.
O projeto de lei do estado foi sancionado e já está em vigor, desde a noite de quinta-feira (20). Com isso, o Parque Guajará-Mirim perdeu mais de 16 mil hectares e terá uma nova área total de 200.094,72 hectares.
Preocupação de entidades
Parque Estadual Guajará-Mirim, que terá área alterada
Reprodução/Kanindé
A redução do Parque de Guajará-Mirim representa impacto em terras indígenas na região, segundo entidades ambientais.
O advogado da Kanindé, Ramires Andrade, apontou ilegalidades no projeto, como o fato da área a ser desafetada ser utilizadas por povos indígenas, o que pode “constituir grave crime contra esses povos”, e a ausência de estudos que demonstrem a necessidade de alteração nos limites das áreas de proteção.
O Parque Estadual de Guajará-Mirim fica próximo da Terra Indígena Karipuna, a 9ª mais desmatada do país.