Economia

Câmara aprova urgência de projeto que dá autonomia ao Banco Central

Câmara aprova urgência de projeto que dá autonomia ao Banco Central thumbnail

Texto prevê mandato de quatro anos para presidente e diretores do BC para evitar interferência política na autarquia. Urgência permite que projeto seja analisado diretamente em plenário. A Câmara dos Deputados aprovou nesta terça-feira (9), por 363 votos a 109, requerimento de urgência para o projeto de lei complementar que estabelece a autonomia do Banco Central.
Na prática, essa aprovação acelera a tramitação do projeto, que pode ser analisado diretamente em plenário. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), colocou o texto em discussão na mesma sessão, logo após a votação da urgência.
Segundo o relator da matéria, deputado Silvio Costa Filho (Republicanos-PE), o objetivo é aprovar o projeto até esta quarta-feira. Se aprovado sem mudanças significativas em relação ao texto do Senado, o projeto seguirá para a sanção do presidente Jair Bolsonaro.
Entre outros pontos, a proposta define que haverá mandato de quatro anos para o presidente do BC e que o mandato dele não coincidirá com o do presidente da República. Um dos objetivos com a mudança é blindar o órgão de pressões político-partidárias.
A autonomia do Banco Central é debatida no Congresso desde 1991, e o projeto entrou na lista de pautas prioritárias do governo, entregue pelo presidente Jair Bolsonaro a Lira e ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), na semana passada.
Relator apresenta proposta de autonomia do BC, tema discutido há 30 anos no Congresso
Nesta segunda-feira, após reunião com o ministro da Economia, Paulo Guedes, e com o próprio presidente do Banco Central, o relator da matéria afirmou que o parecer tem o aval de ambos.
No relatório, Costa Filho afirma que, entre os benefícios da aprovação do projeto, estão a adequação a padrões internacionais e a possibilidade de o BC defender a estabilidade de preços de maneira autônoma.
“Devemos seguir o exemplo de países como Estados Unidos da América, Inglaterra, Chile, Nova Zelândia, Japão, Suíça, México, dentre outros”, escreveu no parecer.
“Com esta adequação aos padrões internacionais, o Brasil passa a ocupar o lugar de destaque que realmente merece. Em consequência, a nossa população se beneficiará de uma maior oferta de crédito internacional e de mais empresas e pessoas interessadas em montar os seus negócios e empreendimentos no nosso País.”
Entre outras funções, cabe ao Banco Central, por meio do Comitê de Política Monetária (Copom), definir a taxa básica de juros da economia (taxa Selic).
Hoje, a Selic está em 2% ao ano com base em uma meta central de inflação de 3,75% em 2011 e 3,5% em 2022. Há um intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo – sem que a meta de inflação seja formalmente descumprida.
A ideia do projeto é que, não podendo a diretoria da instituição ser demitida por eventualmente subir os juros, sua atuação seja exclusivamente técnica — focada no combate à inflação e não nas pressões de governantes.
Mônica Waldvogel sobre autonomia do Banco Central: ‘Lira quer mostrar que tem um novo estilo’
A proposta
O Banco Central tem nove diretores, sendo um deles o presidente da instituição. Após indicação do presidente da República, os aspirantes aos cargos ainda precisam passar por sabatina e votação no Senado.
O texto não altera a composição dessa diretoria colegiada do Banco Central, mas estabelece mandato de quatro anos para o presidente do BC e os demais diretores. Todos eles podem ser reconduzidos ao cargo, uma única vez, por igual período.
Pela proposta, o mandato da presidência do BC não coincidirá com o da presidência da República. De acordo com o texto, o presidente do Banco Central assume o cargo no primeiro dia do terceiro ano do mandato do presidente da República.
Além disso, o presidente do Banco Central deverá apresentar no Senado, no primeiro e no segundo semestre de cada ano, relatório de inflação e de estabilidade financeira, explicando as decisões tomadas no semestre anterior.
Senado aprovou projeto de autonomia do Banco Central em novembro; relembre detalhes
Sem vinculação à Economia
Atualmente, o Banco Central é vinculado ao Ministério da Economia, apesar de não ser subordinado à pasta. Com a proposta, o Banco Central passa a se classificar como uma autarquia de natureza especial caracterizada pela “ausência de vinculação a Ministério, de tutela ou de subordinação hierárquica”.
Segundo o projeto, o BC se caracterizará pela “autonomia técnica, operacional, administrativa e financeira”.
Perda de mandato
O projeto também estabelece as situações que levam à perda de mandato presidente e diretores do Banco Central:
a pedido do próprio dirigente;
em caso de doença que o incapacite para o cargo;
quando sofrer condenação, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão colegiado, por improbidade administrativa ou em crime cuja pena leve à proibição de acesso a cargos públicos;
em caso de “comprovado e recorrente desempenho insuficiente para o alcance dos objetivos do Banco Central do Brasil”.
Nesta última hipótese, o Conselho Monetário Nacional (CMN) deve submeter ao presidente da República a proposta de exoneração, que estará condicionada à prévia aprovação por maioria absoluta do Senado.

Comentar

Clique aqui para postar um comentário