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Professor especialista em Enem ajuda a concretizar o sonho de entrar na universidade

A obrigatoriedade do ensino da sociologia na educação básica e a adoção da nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) como porta de acesso ao ensino superior transformaram a educação no Brasil. A primeira, contribuindo para trazer um olhar mais holístico para as questões sociais e como elas moldam o país; e a segunda, pela responsabilidade de democratizar a entrada nas principais instituições federais. Esse divisor de águas se tornou decisivo também para a carreira do professor Bruno Borges, 35 anos, que passou a dedicar tanto o trabalho em sala de aula quanto o acadêmico ao propósito de auxiliar na transição dos estudantes entre o ensino médio e a graduação.

Cearense, Bruno nasceu na capital Fortaleza, mas veio para Brasília aos 7 anos. Ele próprio nunca teve aulas de sociologia no ensino médio, uma vez que quando terminou a trajetória na educação básica, em 2007, a disciplina ainda não era obrigatória. A referência quando foi aprovado para o curso de ciências sociais na Universidade de Brasília (UnB) era o irmão mais velho, Nicholas, antropólogo.

“Mas, em momento algum, eu tinha pensado em trabalhar com educação. Na verdade, eu queria ser antropólogo como meu irmão e ter uma trajetória acadêmica, de pesquisa na antropologia. Porém, no primeiro ano de graduação, andando ali no Minhocão (prédio do Instituto Central de Ciências do câmpus da Asa Norte), vi um cartaz que tinha um convite para atuar como monitor num cursinho preparatório para vestibular”, detalha Bruno.

Ele se candidatou à vaga e foi selecionado em 2009, primeiro ano da graduação. Dali em diante, não deixou mais a sala de aula. A Lei Federal nº 11.684, de 2008, havia estabelecido a obrigatoriedade do ensino da sociologia no ensino médio, bem como da filosofia. “Existindo uma obrigatoriedade, ela passa a ser cobrada nos principais exames do país, num primeiro momento de maneira mais transversal, depois como um componente curricular. Então, há uma demanda naquele momento por professores de sociologia”, comenta.

As aulas no cursinho noturno representaram uma experiência curiosa e desafiadora, uma vez que muitos dos alunos eram mais velhos do que ele. “Foi surpreendente, por mudar minha trajetória, e ao mesmo tempo assustador, porque eu não tinha nenhuma segurança na prática pedagógica e boa parte dos meus alunos tinham uma idade mais avançada do que a minha”, relembra.

“Porém, com o tempo, fui percebendo que eu me encontrava, porque notei algo muito valioso na minha graduação e na especialização: a licenciatura não é uma trajetória distinta da pesquisa. Um dos maiores aprendizados que eu tive, concluindo minha graduação e depois indo para especialização, foi que as duas coisas não estavam dissociadas. O bom professor, o professor que gosta daquilo que faz, invariavelmente é um pesquisador, porque a sua prática pedagógica envolve uma reflexão e deixa de ser automatizada.”

Mudança de rota

A partir daí, a carreira de Bruno toma outro rumo. Após se formar, em 2013, ele ingressa como professor no Leonardo da Vinci. No mesmo ano, foi aprovado no concurso da Secretaria de Educação do DF, e passou a lecionar também no Centro Educacional Darcy Ribeiro, no Paranoá.

A mudança atingiu também seu trabalho como pesquisador. “Na graduação, eu começo a pesquisar o papel do ensino de sociologia nas escolas do DF naquele momento de obrigatoriedade. Depois, na pós-graduação, qual era a representação de gênero e de raça na principal prova do país, que é o Enem”, detalha. Ele pesquisou como o exame abordava essas temáticas e a influência no trabalho feito em sala de aula.

Hoje, o professor se considera realizado no caminho que trilhou. “Consegui associar as duas coisas que eu amo, que são a juventude (e a formação dessa juventude) e a pesquisa. Consegui aliar a sala de aula com o meu espaço de trabalho e com o meu objeto de pesquisa. É isso que faz com que eu tenha uma profunda identidade com os meus alunos e com a minha prática de trabalho”, alegra-se.

No mestrado, concluído em 2022, a investigação sobre o Enem continuou, agora com foco na queda drástica no número de inscrições, um fenômeno observado a partir de 2017. “Quando eu me torno professor, ali em 2009, o PAS, o Enem e o vestibular são as principais formas de acesso ao ensino superior, e o Enem vivenciava um boom de inscrições, com 9 milhões de inscritos. Só perdia para o Gaokao, que é o maior vestibular do mundo, o chinês”, observa.

 

Texto e mídia retirados de: https://www.correiobraziliense.com.br/euestudante/trabalho-e-formacao/2025/07/7188818-professor-ajuda-a-concretizar-o-sonho-de-entrar-na-universidade.html