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Pandemia transforma férias de polonesa em temporada de 10 meses na Colômbia: 'Encontramos um lar'

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Joanna Zdanowska era uma das turistas que estava no país quando a quarentena começou. Ao contrário da maioria dos estrangeiros, entretanto, decidiu ficar. Joanna Zdanowska tem 47 anos e decidiu tirar um ano sabático viajando pela América Latina
Lucie Vildnerova
Joanna Zdanowska, uma polonesa de 47 anos, era uma das turistas que estava na Colômbia quando a quarentena começou devido à pandemia de Covid-19.
Ao contrário de centenas de estrangeiros que voltaram à terra natal, entretanto, decidiu ficar na pequena Palomino, na costa caribenha.
À BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC, ela contou um pouco de sua experiência — que pode ser lida a seguir.
Em agosto de 2020, quando a Colômbia anunciou o fim da quarentena mais restritiva, já queríamos ficar onde estávamos. Não queríamos que nada mudasse.
Meus amigos e eu, todos turistas, viemos para a América Latina antes do início da pandemia. Encontramos um lar em Palomino, na costa atlântica colombiana.
Palomino é uma pequena cidade muito perto de uma bela praia cheia de palmeiras que se estende por vários quilômetros.
Em março, assim que tudo começou, não quis voltar para a Polônia, como fizeram alguns colegas, porque tinha esperança de que logo poderia continuar viajando.
Mas então duas semanas se passaram e a quarentena foi estendida. E mais duas semanas. E mais. E assim por diante, até ficarmos oito meses em uma cidade perto da praia sem poder nem entrar no mar.
Ficamos em um albergue e todos os restaurantes e bares estavam fechados. Não havia nada para fazer.
Com o tempo, os turistas foram embora e apenas alguns de nós permaneceram. E, conforme os dias foram passando, fomos formando uma família de cerca de quinze pessoas com um relacionamento muito íntimo com os donos dos hostels onde estávamos. Saí de férias da Polônia e acabei ficando toda a pandemia na Colômbia porque encontrei uma família aqui.
Viajando pela América Latina
Em 2019, decidi tirar um ano de folga porque fiquei entediada com a Polônia, onde também tenho um apartamento que gera renda e me permite viajar.
Estive no México, Guatemala e Cuba. Depois, planejei viajar dois meses pela Colômbia, país muito recomendado para o turismo. Fiquei 10 meses e sigo contando.
Quando você viaja, encontra muitas pessoas, mas geralmente convive com elas por no máximo uma semana. Quando você mora com alguém por seis meses, entretanto, isso cria um relacionamento único.
Nenhum de nós estava trabalhando, então passávamos o dia juntos. Nos sentíamos permanentemente em férias.
Todos se apoiavam mutuamente. Alguns cozinhavam para nós, outros cuidavam dos albergues, aprendiam a surfar — teve uma garota que começou a dar aulas de espanhol online.
Na casa onde me hospedei, por exemplo, havia uma família de venezuelanos com dois filhos. As crianças descobriram que tínhamos mais tempo para eles do que seus próprios pais e passavam o dia conosco. Comprei livros e li histórias para eles. Mostrei vídeos no YouTube. Agora as crianças dizem que somos suas mães — isso parte o coração.
O que aprendi
O melhor de ficar aqui tanto tempo é que pude conhecer bem o povo da cidade, uma experiência que nada tem a ver com a que se vê no turismo de massa.
Uma das experiências mais extraordinárias que tive foi quando fui a uma cidade de Arhuacos, um grupo de indígenas que vive na Serra Nevada de Santa Marta e teve muito pouco contato com as culturas ocidentais.
Tínhamos que sair às 4 horas da manhã, porque eram 8 horas de caminhada, mas, depois de 9 horas, ainda não havíamos chegado. Pensamos que este lugar não existia.
Quando finalmente chegamos, os índios nos deram sua maior casa. Ficamos três dias.
Essa experiência mudou meu pensamento, descobrimos algo que pode ser óbvio, mas nunca havíamos experimentado: não precisamos de nada para sermos felizes.
Eles cobravam US$ 50 (cerca de R$ 260) para cada um de nós cinco. Quando vimos as condições em que vivem os índios, decidimos não negociar nada, porque eles dormem no chão, não têm luz, não têm gás, tudo é muito básico. Comem apenas coisas que produzem: mandioca, banana, arroz.
São coisas muito básicas, que me ensinaram muito e me deram vontade de continuar viajando, e talvez aproveitar minha experiência de 14 anos na televisão polonesa em um desses países. Acho que é um bom momento para vender produções que já estão prontas e não precisam mais do que legendas ou dublagens.
Não preciso ter contato físico com minha família. Tudo que preciso é ver os filhos do meu irmão. Mas conversamos muito.
A situação na Polônia hoje é muito complicada. Em relação ao coronavírus, o quadro é bem parecido com o da Colômbia.
Além disso, o atual governo do meu país é muito conservador: eles não aceitam a comunidade LGTBQI, o aborto é uma questão de guerra, milhões de pessoas estão nas ruas protestando.
Também há o rigoroso inverno. E não é que eu tenha me acostumado com o clima daqui — me incomoda quando faz 38 graus. Mas é relaxante ficar sozinha, com chinelos e um vestido curto em vez de cinco quilos de roupa para o frio. E gosto disso em Palomino.
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