Meio Ambiente

Organização sugere como acabar com risco de coronavírus: 'Tornem-se veganos!'

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Tão logo surgiram as primeiras notícias ligando o surto de coronavírus ao consumo de carne de animais, a organização mundial Pessoas para o Tratamento Ético dos Animais (Peta na sigla em inglês) fez, em seu site, uma única e contundente sugestão para acabar com o problema: torne-se vegano!. Faz sentido. Segundo informações colhidas pela organização, o vírus que está atemorizando a população mundial, rotulado como 2019-nCoV, é semelhante a outros coronavírus, como o da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS) e Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS). E os três se espalharam de animais para humanos. A solução, então, de não consumir mais carnes de animais, é até óbvia, não fossem as dramáticas consequências econômicas que poderiam vir no bojo.
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Fato é que grande parte do comércio internacional se estruturou sobre a importação e exportação de carnes (o Brasil é o maior do mundo). E, como é mais dispendioso manter caminhões ou contêineres frigoríficos, a solução cada vez mais usada é transportar os animais vivos e abatê-los no solo onde serão consumidos. Há também questões culturais, já que o Oriente Médio precisa inspecionar o abate.
Aqui vale um momento de reflexão, já que não posso deixar de sentir uma imensa comiseração por bichos transportados, quase sempre, em péssimas condições, sem nenhuma preocupação com o bem-estar deles. Quando o lucro está em jogo, ele sempre fala mais alto, e é até risível, para muitos dos que se ocupam desse transporte, gastar tempo pensando em garantir uma viagem mais cômoda para os animais. Mesmo considerando que eles serão mortos para alimentar os humanos.
Feito o parêntesis, vale dizer também que outro fato procedente é que, mesmo com toda propaganda que tem sido feita nas últimas décadas em prol de uma alimentação vegana, o consumo de carne não diminuiu globalmente. Ao contrário. Reportagem publicada há um ano pela BBC e reproduzida aqui no G1 diz que “O consumo de carne no mundo aumentou rapidamente nos últimos 50 anos, e sua produção hoje é quase cinco vezes maior do que no início dos anos 1960 – de 70 milhões de toneladas, passou para mais de 330 milhões em 2017”.
É claro que precisamos levar em conta que aumentou também o número de pessoas no mundo. Em 1980 éramos cerca de 4,5 bilhões, e hoje somos 7,6 bilhões. Mas aqui no Brasil há uma cultura, quase inabalável, e a crença de que se a pessoa não consumir proteína animal (carne vermelha, de preferência), não está se alimentando bem, de maneira saudável. No entanto, como se sabe, não são todos que podem pagar o preço desta crença: quanto mais ricos os países, mais carne é consumida. E a proporção inversa é real.
A questão é que as epidemias de Sars, Mers, e agora esta que nos abala, têm levado os veterinários e epidemiologistas a declarar que transportar animais vivos ao redor do mundo aumenta o risco de doenças. Segundo reportagem publicada no britânico “The Guardian”, o receio é que a situação piore.
Em entrevista à jornalista Mattha Busby, o veterinário da Universidade de Ghent, na Bélgica, Jeroen Dewulf, disse que “Quanto mais você move animais, mais corre o risco de que doenças se espalhem por esses animais. Existem outras rotas, o vírus pode ser transmitido em produtos à base de carne, por exemplo, mas é muito mais eficiente transmitir através de animais vivos”. Um caso bem conhecido desta situação, enfrentado pelos britânicos na década de 90, foi a encefalopatia espongiforme bovina, comumente conhecida como doença da vaca louca. Na época, exportações de gado vivo foram proibidas no Reino Unido.
Em 2015, um estudo publicado pela revista BioMed foi taxativo ao afirmar, após pesquisa, que “O comércio de animais vivos pode contribuir para a introdução de doenças exóticas, a manutenção e a disseminação de doenças endêmicas”.
Os membros da Peta colecionam ainda mais informações que alimentam a certeza de que se as pessoas pararem de consumir carne de animais também vão se ver livre, não só de epidemias de doenças respiratórias como de outros males que têm atingido a humanidade. O câncer entre eles.
“As Nações Unidas descobriram que 70% das novas doenças humanas eram originárias de animais e muitas delas estavam diretamente ligadas a animais usados para alimentação. A Organização Mundial da Saúde afirma que a carne processada causa câncer. Enquanto isso, uma dieta vegana reduz o risco de muitas doenças e condições degenerativas crônicas, incluindo doenças cardíacas, câncer, obesidade, hipertensão e diabetes tipo 2. Não podemos esperar continuar vivendo no planeta Terra se continuarmos a comer animais. É realmente assim tão simples”, diz o texto.
Não acho que seja tão simples. Mas é um tema que deve fazer parte de nossas reflexões. As escolas, por exemplo, podem e devem liberar informações nutricionais para as crianças, seja em países pobres ou ricos. Elas precisam conhecer outras possibilidades para fazer escolhas na hora de se nutrir.
Minha experiência pessoal foi assim: há pouco mais de uma década eu procurei uma nutricionista que me ajudasse a fazer uma dieta para perder peso. A primeira coisa que ela me pediu para fazer foi uma semana de desintoxicação alimentar, incluindo o não consumo de carne vermelha por, pelo menos, sete dias. Perguntei o motivo, e ela me deu vários, mas um deles me chamou a atenção: a carne vermelha dá mais trabalho ao organismo para fazer a digestão. Como ela me sugeriu boas alternativas à carne vermelha, preferi seguir com essa dieta pela vida afora para facilitar a vida de meu sistema digestivo. E me senti muito bem assim.
Mas eu pude fazer esta escolha porque tive informação. É disso que precisamos, em vez de propagandas massivas que nos orientam o desejo, transformando-o em necessidade. Estamos em tempos bem delicados, em que a reflexão sobre hábitos arraigados se faz necessária.
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