Meio Ambiente

Número de aves feridas por linhas de pipas no RJ dispara na pandemia; alguns as cortam de propósito, diz veterinário

Número de aves feridas por linhas de pipas no RJ dispara na pandemia; alguns as cortam de propósito, diz veterinário thumbnail

Nos seis meses da quarentena, centro de reabilitação socorreu 113 fragatas machucadas; no mesmo período do ano passado, foram 15. Muitas das aves atingidas nunca mais conseguem voar livremente. Aumenta número de aves feridas por linhas de pipa no Rio
O número de aves feridas por linhas de pipas no RJ disparou na pandemia de Covid-19. Com o ensino presencial suspenso, crianças e adolescentes têm saído mais para empiná-las — e, segundo veterinários, alguns miram nos animais para atingi-los de propósito.
No RJ, é comum usar linhas chilenas ou com cerol, que aumentam o poder de corte das pipas — e também o número de acidentes.
Nos últimos seis meses, o Centro de Reabilitação de Animais Silvestres da Universidade Estácio de Sá encontrou 113 fragatas lesionadas no entorno da Baía de Guanabara. No mesmo período de 2019, foram apenas 15.
O Bom Dia Brasil acompanhou o atendimento a uma garça. A equipe da Estácio precisou imobilizar a asa do animal.
“Ele também vai precisar de antibiótico e de analgésico, porque dói bastante”, disse o veterinário e biólogo Jeferson Pires.
Jeferson diz que alguns animais são vítimas de ataques intencionais.
“Pessoas estão competindo por cortar. ‘Deixa eu ver quantos animais eu derrubo mais’. Isso é uma realidade em algumas espécies de aves”, afirmou.
Garça foi ferida por linha de pipa
Reprodução/TV Globo
A veterinária Daphne Wrobel alerta que esse número está subestimado. “A gente acaba não sendo chamada para todos os resgates”, explicou.
Daphne afirma que as fragatas são as mais atingidas.
“Linhas com cerol ou chilenas são bastante cortantes e acabam ficando bem tensionadas enquanto a pessoa está soltando a pipa. O animal passa, e aquilo funciona como uma lâmina, lesionando estruturas importantes para o voo”, detalhou.
Dano permanente
Segundo Jeferson, poucas aves machucadas conseguem voltar a voar livremente.
“A gente tem que fazer uma avaliação muito minuciosa para ver quais são os animais que teriam capacidade de reintrodução”, disse.
“Mas é muito difícil a gente ter um animal que vá conseguir voltar para a natureza. A gente tenta fazer a soltura desses animais, mas a grande maioria acaba perdendo a liberdade”, emendou.
Aves silvestres são resgatadas durante a pandemia
Reprodução/TV Globo
Cerol no RJ é crime
No Estado do Rio, é proibido fabricar, comercializar e usar linha de pipa chilena ou com cerol. Através de denúncias, a polícia já conseguiu fazer apreensões de material que seria comercializado.
Este ano, já foram feitas cerca de 700 denúncias sobre linha chilena ao Linha Verde, canal do Disque Denúncia para denunciar crimes ambientais. No mesmo período do ano passado, foram 430 denúncias.
“O que a gente pede encarecidamente é para não usar nenhum material cortante na linha. Soltar pipa é um hábito superlegal, mas o uso do cerol e da linha chilena machuca e mata”, pediu Daphne.
O que dizem as autoridades
A Polícia Civil informou que não tem registros de ataques intencionais a aves com linhas de pipa.
O Instituto Estadual do Ambiente afirmou, no entanto, que recebeu denúncias desse tipo em maio e junho e avisou aos órgãos ambientais do estado.
O comando de policiamento ambiental informou que tem realizado operações para coibir a fabricação e a venda de linha chilena e cerol.
Informações podem ser repassadas de forma anônima pelo Whatsapp ou Telegram do Portal dos Procurados, no telefone (21) 98849-6099; pela Central de Atendimento, no (21) 2253-1177; através do Facebook; e pelo aplicativo Disque Denúncia RJ.
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