Meio Ambiente

Metade das crianças do mundo está 'extremamente exposta' aos impactos da crise climática, diz Unicef

Metade das crianças do mundo está 'extremamente exposta' aos impactos da crise climática, diz Unicef thumbnail

Cerca de 1 bilhão de crianças e adolescentes está altamente exposta à escassez de água e a níveis extremamente altos de poluição do ar. Metade da população infantil mundial, o equivalente a 1 bilhão de crianças e adolescentes, está altamente exposta a pelo menos um dos impactos da crise climática, como a escassez de água e a níveis extremamente altos da poluição do ar, aponta um relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) divulgado nesta quinta-feira (19).
Mudança do clima acelera criação de deserto do tamanho da Inglaterra no Nordeste
Aquecimento global: o que as pessoas podem fazer na prática para reduzir o impacto no clima
O Unicef ressalta que mais de um terço de todas as crianças no mundo já vivem expostas a escassez hídrica, e esse total deverá aumentar com a maior duração dos períodos de seca, previsto no relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o clima publicado este mês.
Em resumo, são os impactos causados pela crise climática e as crianças associados a eles, segundo o Unicef:
1 bilhão de crianças e adolescentes estão altamente expostos a níveis extremamente altos de poluição do ar;
920 milhões de crianças e adolescentes estão altamente expostos à escassez de água;
400 milhões de crianças e adolescentes estão altamente expostos a ciclones;
600 milhões de crianças e adolescentes estão altamente expostos a doenças transmitidas por vetores;
815 milhões de crianças e adolescentes estão altamente expostos à poluição por chumbo;
820 milhões de crianças e adolescentes estão altamente expostos a ondas de calor;
240 milhões de crianças e adolescentes estão altamente expostos a inundações costeiras;
330 milhões de crianças e adolescentes estão altamente expostos a inundações ribeirinhas
Enchentes, neve e calor extremo: como as mudanças climáticas afetam o planeta
Apesar de todos estarmos expostos aos impactos da crise do clima, o Unicef alerta que, na comparação com os adultos, meninas e meninos são mais vulneráveis, pois precisam de mais comida e água por unidade de seu peso corporal, são menos capazes de sobreviver a eventos climáticos extremos e são mais suscetíveis a produtos químicos tóxicos, mudanças de temperatura e doenças, entre outros fatores.
O documento lembra que 2020 foi o ano mais quente já registrado na Terra e prevê que a cifra de crianças e adolescentes que sofrem com temperaturas altas e ondas de calor – atualmente um terço da população infantil, ou 820 milhões de crianças – deverá crescer nos próximos anos.
Mais de uma em cada quatro crianças vivem altamente expostos a doenças transmitidas por vetores, como malária e dengue, e esse número deverá aumentar a medida que a mudança climática e o aquecimento global favorecer a reprodução desses vetores.
A apresentação do relatório é assinada pela ativista sueca Greta Thunberg, além de outros três adolescentes que integram o movimento Fridays for Future (Greve pelo Clima), grupo que colaborou para a elaboração do documento.
“Nossos futuros estão sendo destruídos, nossos direitos são violados e nossos apelos são ignorados. Em vez de ir frequentar a escola ou viver em um lar seguro, as crianças estão enfrentando fome, conflitos e doenças mortais devido ao clima e às crises ambientais”, diz a apresentação do relatório.
Greta Thunberg sobre relatório da ONU: ‘Que, mais uma vez, possa ser um lembrete de que a crise climática não está passando’
Redução de impactos
Para reduzir os impactos que as mudanças climáticas e o aquecimento do planeta terão sobre as crianças e adolescentes nos próximos anos, o Unicef afirma que é urgente que os governos garantam a essa população o acesso à água, saneamento e sistemas de higiene, assim como saúde e educação.
Outros pontos que o relatório sugere aos governos devem:
Fornecer a crianças e adolescentes educação climática e habilidades verdes, essenciais para sua adaptação e preparação para os efeitos das mudanças climáticas
Reduzir as emissões de gases de efeito estufa em pelo menos 45% (em relação às emissões de 2010) até 2030
Garantir que a recuperação da pandemia de Covid-19 seja verde, com baixo nível de carbono e inclusiva, de modo que a capacidade das gerações futuras de enfrentar e responder à crise climática não seja comprometida
Incluir os jovens em todas as negociações e decisões nacionais, regionais e internacionais sobre o clima, inclusive na COP26
Não é mais possível impedir o aquecimento global
O relatório da ONU sobre as mudanças climáticas, elaborado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês), aponta que não é mais possível impedir que o aquecimento global se intensifique nos próximos 30 anos.
Segundo a ONU, o aquecimento de 1,5°C a 2°C será ultrapassado ainda neste século se não houver forte e profunda redução nas emissões de CO² e outros gases de efeito estufa. Caso as reduções ocorram, ainda pode levar até 30 anos para que as temperaturas se estabilizem.
A ONU destacou que todas as regiões do globo já são afetadas por eventos extremos como ondas de calor, chuvas fortes, secas e ciclones tropicais provocadas pelo aquecimento global.
Além disso, a temperatura da superfície terrestre subiu mais rapidamente desde 1970 do que em qualquer outro período de 50 anos visto nos últimos 2 mil anos.
VÍDEOS: tragédias e fenômenos causados pelas mudanças climáticas