Economia

Mais empregos, menos reformas: veja as expectativas de economistas sobre o governo após 1 ano de mandato

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G1 voltou a ouvir 6 analistas sobre a capacidade do governo Bolsonaro para promover a retomada do crescimento, aprovação de reformas, reequilíbrio das contas públicas e geração de empregos. O comando da Presidência da República por Jair Bolsonaro completou um ano há pouco, com alguns avanços e outros revezes na condução da política econômica, acompanhados com atenção pelos economistas.
Em novembro de 2018, um mês após a eleição do novo presidente, o G1 ouviu 6 economistas sobre suas expectativas a respeito da capacidade do governo de promover o crescimento da economia, conseguir aprovação de reformas, reequilibrar as contas públicas e gerar mais empregos.
As entrevistas se repetiram 30 dias após a posse e quando o mandato completou seis meses. Na última reportagem da série, o G1 voltou a ouvir os mesmos profissionais entre os dias 8 e 10 de janeiro, um ano após a posse do novo governo.
O levantamento mostra que houve melhora nas expectativas em 3 dos 4 pontos questionados, com destaque para as estimativas para as contas públicas e para a geração de emprego – com cinco dos seis economistas ouvidos avaliando que o governo vai conseguir criar mais postos de trabalho.
Houve piora apenas nas expectativas sobre a aprovação de reformas, ainda que a da Previdência tenha tido sucesso. Em julho, todos os seis economistas ouvidos estavam otimistas de que o governo conseguiria a aprovação de reformas; no levantamento atual, esse número caiu para quatro.
Veja abaixo o que mudou nas expectativas dos economistas ao longo desse período:
1 mês após as eleições:
1 mês após as eleições: economistas respondem sobre expectativas para o novo governo
Juliane Monteiro/G1
1 mês de mandato
1 mês após a posse de Bolsonaro: economistas respondem sobre expectativas para o novo governo
Alexandre Mauro
6 meses de mandato
6 meses: economistas respondem sobre expectativas para o novo governo
Guilherme Luiz Pinheiro/G1
1 ano de mandato
1 ano após a posse de Bolsonaro: economistas respondem sobre expectativas para o governo
Rodrigo Sanches/G1
Participaram do levantamento Alessandra Ribeiro (Tendências Consultoria), Alex Agostini (Austin Rating), André Perfeito (Necton), José Francisco de Lima Gonçalves (Banco Fator), Luís Paulo Rosenberg (Rosenberg Associados) e Marcel Caparoz (RC Consultores).
Além de responder “sim” ou “não” às perguntas, os economistas também fizeram análises sobre as questões levantadas. Leia abaixo:
Crescimento da economia
Dos 6 entrevistados, 5 disseram que o governo Bolsonaro conseguirá promover o crescimento da economia – 1 especialista a mais do que no levantamento anterior.
O avanço das expectativas foi atribuído à melhora de indicadores econômicos do país, como a queda da taxa de juros e inflação sob controle, e além da aprovação de reformas em 2019, com destaque para a Previdência Social.
Entenda o que muda com a nova Previdência Social
“Internamente, houve grandes avanços nas questões fiscais que melhoraram as percepções de risco de investidores e empresários em relação ao Brasil. Houve também a redução da taxa de juros para nível historicamente baixo e início da retomada do mercado de trabalho, ainda que de forma moderada”, diz Agostini.
“Esses fatores são o pano de fundo da retomada econômica, porém, sem grandes alardes, já que nossa estimativa é de alta do PIB [Produto Interno Bruto] de apenas 2,4%”, acrescenta.
Rosenberg reforça que a melhora dos indicadores irá ajudar na retomada do consumo e dos investimentos. “O ano de 2019 foi muito bom para criar as condições de crescimento econômico”, diz.
“Do lado das reformas, além da Previdência, o governo abraçou forte a pauta trabalhista, ao criar a Carteira de trabalho Verde e Amarelo e apoiar a flexibilização da CLT. Essa maior liberdade para o setor privado também ajuda no crescimento”, afirma Rosenberg.
Saiba mais sobre o programa Verde e Amarelo
André Perfeito destaca que o foco do governo em aumentar investimentos por meio do estímulo ao setor privado é uma estratégia que leva mais tempo para surtir efeito na economia.
“Como o intuito do governo é melhorar a produção, isso implica em mais investimento e investimento é algo que demora pra acontecer. Apesar do crescimento até ganhar certa tração, temos ainda uma reação tímida no mercado de trabalho, por exemplo. Logo a sociedade deve sentir pouca melhora no curto prazo”, diz Perfeito.
Já Gonçalves acredita que a política fiscal contracionista do atual governo reduz o potencial de crescimento do país.
“Na medida em que o governo encolhe os investimentos e reduz as suas compras, isso impacta diretamente a atividade, já que o Estado tem uma participação importante na economia. O setor privado não consegue, sozinho, estimular a economia”, diz.
Reformas econômicas
Deputados votam o texto-base da reforma da Previdência no plenário da Câmara em 10 de julho de 2019
Michel Jesus/Câmara dos Deputados
O número de economistas que aposta na continuidade de aprovação das reformas diminuiu do levantamento anterior para este. Enquanto em julho de 2019, todos os 6 analistas estavam positivos, neste mês, somente 4 esperam mais aprovações. Foi o único item que apresentou piora nas expectativas em relação à avaliação feita há seis meses.
Quando os economistas responderam ao levantamento de julho, a Câmara dos Deputados estava perto de aprovar, em primeiro turno, a reforma da Previdência Social.
Mesmo os especialistas que acreditam na continuidade das reformas avaliam que haverá mais dificuldades este ano. Segundo eles, as principais discussões das casas legislativas em 2020 girarão em torno das reformas tributária e administrativa, além das Propostas de Emenda à Constituição (PEC) do Pacto Federativo e PEC Emergencial. Estas três últimas são uma série de propostas para controlar gastos e reduzir o tamanho da máquina pública.
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Caparoz diz que a próxima reforma que pode ser aprovada é a tributária. Porém, a possibilidade de ausência de consenso e eleições municipais podem travar o encaminhamento.
“Ao contrário da reforma da Previdência, cada congressista defende uma reforma tributária própria. Ainda que se concorde sobre a necessidade de uma reforma tributária, não há qualquer consenso sobre os pilares das mudanças que devem ser realizadas”, avalia Caparoz.
“Os parlamentares têm apressado as comissões que analisam as propostas de reforma tributária. Se não for aprovada até o meio deste ano, é provável que fique para o ano seguinte, uma vez que a agenda será completamente tomada pelas articulações em torno das eleições municipais”, acrescenta.
Perfeito tem uma avaliação semelhante. Além das eleições para as prefeituras, ele pontua que: “As reformas são de cunho federativo e, neste sentido, será necessário uma maior atuação do presidente Bolsonaro para mediar eventuais tensões. Sabemos que ele está num momento frágil (construindo um novo partido), logo será limitada sua capacidade de atuação”, diz.
Já Alessandra Ribeiro está mais positiva e afirma que o Congresso mostrou, ao longo de 2019, que tem uma “propensão bastante reformista”.
“Além de o Congresso ter um alinhamento com a equipe do Ministério da Economia, eles sabem que precisam melhorar a sua imagem perante o público. E, essa melhora, passa pela retomada da economia, o que, por sua vez, depende de reformas”, diz Ribeiro.
Nas projeções dela, a PEC Emergencial, a reforma administrativa e uma parte do Pacto Federativo devem começar a ser aprovados a partir do segundo semestre de 2020. “Não consideramos a aprovação da reforma tributária em nosso cenário básico”, afirma a economista da Tendências.
Contas públicas
Já com relação à capacidade do governo de reequilibrar as contas públicas, a perspectiva melhorou. Dos 6 entrevistados, 5 apostam no ajuste contra apenas 2 no levantamento anterior.
Ribeiro avalia que o governo deve começar a ter superávit (receitas maiores que despesas, sem os juros da dívida) a partir de 2022, último ano do mandato de Bolsonaro.
“A recuperação da atividade econômica vai gerar um aumento da arrecadação de tributos e as privatizações e concessões trarão receitas extras. Além disso, o governo deve continuar cortando gastos”, diz Ribeiro.
Nas projeções dela, o governo deve arrecadar cerca de R$ 15 bilhões por ano de receitas extraordinárias até o final do mandato.
Rosenberg também vê as privatizações e concessões como “essenciais” para a melhora imediata das contas públicas e diz que, se o governo conseguiu melhorar as suas finanças com o Brasil “crescendo pouco” em 2019, em torno de 1%, “com a economia avançando mais rapidamente em 2020, em 2,5%, fica mais fácil”, diz.
Já Gonçalves avalia que as receitas extras não trazem equilíbrio no longo prazo. “A melhora recente nas contas do governo veio mais de recursos não recorrentes, o que, por definição não é equilibrar as finanças, apesar de ter um efeito de diminuição do déficit”.
Como ele espera que a economia continue apresentando um crescimento “mais modesto” em 2020, o economista não vê a receita de tributos avançando de forma significativa. Soma-se a isso, o corte de investimentos públicos que, em sua avaliação, reduz tração da economia e, portanto arrecadação.
Geração de empregos
Desempregados fazem fila no Vale do Anhangabaú, na cidade de São Paulo, em busca de uma vaga
Pâmela Kometani/G1
Houve também melhora na expectativa de geração de empregos. Entre os 6 entrevistados, apenas 1 economista está mais pessimista com o mercado de trabalho. No levantamento anterior, 3 estavam mais negativos.
Agostini diz que, além da reforma trabalhista, “que já surte efeito com geração de empregos intermitentes em alguns setores”, a criação do programa Verde Amarelo vai estimular geração de emprego para os jovens entre 18 a 29 anos.
“Ademais, a queda da taxa de juros tem estimulado a recuperação de setores que são intensivos no uso da mão de obra, como, por exemplo, o setor da construção civil”, diz Agostini.
Já Caparoz e Perfeito chamam a atenção para a qualidade dos postos que devem ser gerados.
“O mercado de trabalho está sendo amplamente desregulado e novas tecnologias criaram novos ofícios. De fato a taxa de desemprego deve continuar a cair, mas o emprego criado é de pior qualidade no sentido da renda. Este deve ser o tom ao longo do ano”, diz Perfeito.
Caparoz acrescenta que salários baixos e emprego sem estabilidade, inibem o consumo dos trabalhadores. “O nível de informalidade ainda deve ser grande”, reforça.
Agostini, por sua vez, espera que, mantido o cenário atual, a tendência é que, a partir de 2021, a qualidade do emprego e da renda comece a melhorar. “Ou seja, teremos menos subempregos e empregos temporários e valorização dos salários”.
Ribeiro afirma que a própria retomada da economia vai estimular novas vagas, mas que a taxa de desemprego cairá lentamente. “Na média do ano, a taxa de desocupação deve fechar 2019 em 11,9%, após ter alcançado 12,3% em 2018. Em 2022, essa taxa deve terminar em 11%”.