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Conheça a fazenda que dobrou a produtividade de grãos com o cultivo orgânico

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Com uma produção sustentável, empresa consegue fazer com que o meio ambiente trabalhe a seu favor. Empreendimento, que tem emissão de carbono negativo, gera lucro de 40% ao ano. Conheça a fazenda que dobrou a produtividade de grãos com o cultivo orgânico
A fazenda Rizoma, em São Paulo, dobrou a produção de grãos após adotar o cultivo orgânico. Apesar do método ser mais popular em pequenas propriedades, a empresa, com centenas de hectares, busca um modelo que some produtividade, lucro e preservação do meio ambiente.
Atualmente, a fazenda investe na produção de milho e de soja para atender o mercado de criação de animais no sistema orgânico. Tudo começou justamente porque Pedro Paulo Diniz, fundador da iniciativa, percebeu uma falta deste tipo de grão no mercado para alimentar galinhas.
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A Rizoma é o segundo empreendimento de Diniz, que também fundou a Fazenda da Toca, onde cria galinhas que dão ovos orgânicos. Hoje, a Rizoma é uma fornecedora para o criadouro.
Com uma colheita de 60 sacas de soja por hectare e 150 de milho de sequeiro, a empresa consegue ainda exportar o restante da safra que não vai para a Fazenda da Toca.
O que é agricultura regenerativa?
Diniz deu início à Rizoma em 2018, juntamente com seu sócio Fábio Sakamoto. Eles contam que a área escolhida para o empreendimento estava com a terra degradada e pouca matéria orgânica.
Por causa disso, eles tiveram que corrigir o solo usando calcário e gesso, produtos biológicos para trazer a biodiversidade de volta e adotar a rotação de culturas para reviver o solo.
Este processo se baseia no conceito da agricultura regenerativa que, segundo Sakamoto, “parte do princípio que não é suficiente você reduzir o dano e que nós estamos no momento que precisamos reverter o dano”.
Para obter uma melhoria dos indicadores, é preciso ter um solo com biodiversidade, a partir de insetos e microorganismos.
O solo é onde as plantas armazenam o carbono que nutre os microorganismos de baixo da terra, além de servir como uma esponja para a água.
Para conseguir um ciclo equilibrado de biodiversidade, a empresa usa algumas técnicas, como manter o solo protegido por meio da palhada do milho.
“A diferença aqui é que, no sistema orgânico, toda essa biodiversidade auxiliar acaba fazendo com que a natureza trabalhe junto com a gente, no sentido de fazer com que haja um equilíbrio na produção. E a gente tem observado produtividades crescentes ao longo dos anos”, diz o diretor de operações da Rizoma, Fernando Tersi.
A Rizoma tem mais de 60 funcionários e diversos parceiros na natureza.
Quando aparecem enfermidades, a fazenda lida por meio de produtos de controle biológico, que usam, principalmente, fungos e bactérias para derrotar pragas e insetos que transmitem doenças. Atualmente, a empresa já produz esses insumos por conta.
Tecnologia como aliada
O custo deste tipo de produção acaba sendo até 20% mais caro do que o modelo convencional. Entretanto, na hora de vender, o cultivo orgânico é comercializado por até o dobro do preço.
Para cortar gastos, a Rizoma tem investido em tecnologia. Um destes casos é a adoção de máquinas que capinam, no lugar de arrancar espécies invasoras uma a uma, como seria em uma produção menor.
A fazenda ainda está adaptando e testando técnicas para ver o que dá certo. Metade da área dela é dedicada a experimentos que visam melhorar a produtividade, diminuir o custo de produção e se aventurar em novas culturas.
Para manter esta lavoura saudável, um funcionário faz uma ronda investigando a quantidade de lagarta, registrando tudo no tablet para ver se precisa tratar da área.
Investindo em gado
Além dos testes com grãos, já existem ensaios com a pecuária na fazenda. Cerca de 200 cabeças de gado compartilham uma área divida em quatro sistemas:
capim Zuri;
árvores para criar sombra;
arbusto Margaridão, que é fonte de proteína para o gado;
capim, árvores e leucena, uma leguminosa saborosa para os animais.
O agrônomo Fabrício Martins calcula a densidade das plantas por área e compara em qual dos modelos o ganho de peso do gado é maior.
Os animais participam de um sistema de revezamento com a agricultura. Depois da colheita do milho, metade do gado sai do primeiro sistema e vai pastar na área do plantio, junto com o capim, comendo sementes de plantas invasoras e adiantando o serviço para a próxima lavoura.
A criação de gado também regenera o meio ambiente, porque, quando o rebanho pasta, ele movimenta nutrientes escondidos na terra. Além disso, o esterco ajuda a aumentar a matéria orgânica no solo.
Ciclo de produção
Os diferentes negócios formam uma cadeia de produção: os grãos alimentam as galinhas que, por sua vez, fornecem adubo para as duas fazendas da empresa, uma localizada em Iaras e a outra em Itirapina, ambas em São Paulo.
Em Itirapina, são cultivados limão siciliano, eucalipto, louro pardo e laranja.
“Diferentes plantas ocupam o ambiente de formas diferentes, profundidades diferentes de raízes… Isso estimula uma vida no solo. Você tem plantas que são abrigos de inimigos naturais e importantes para o controle das principais pragas e doenças”, diz o diretor técnico e agrônomo, Osvaldo Serrano Jr.
Todas as espécies apoiam a cultura principal do limão tahiti, que gera quase 50 toneladas durante a safra.
Além disso, a madeira de algumas árvores também vai ser comercializada no futuro. No presente, elas já atraem dinheiro com a produção de insumos.
“Quando a gente poda para abrir luz no sistema, o material podado é triturado e acumulado na linha e isso acaba devolvendo para o sistema todos os nutrientes que foram absorvidos por essa planta”, conta Serrano.
Além de aumentar o material orgânico, a plantação também ajudou a fazenda a ter operações de carbono negativo. Ou seja, as árvores sequestram mais carbono do que é emitido na produção.
Meio ambiente gera lucro
Os sócios Pedro Diniz e Fábio Sakamoto já investiram mais de R$ 70 milhões para produzir em 1.200 hectares e para desenvolver mercado e tecnologia. Apesar de ainda não terem conseguido o retorno do valor, as operações geram lucro de 40% ao ano.
Agora, o plano é expandir a produção para mais de 6 mil hectares em São Paulo e Mato Grosso até 2022.
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