Embrapa do Amapá acompanha comunidade São José do Rio Maniva, no Afuá (PA), que fica a 40 minutos de Macapá. Coleta de sementes é realizada próxima da casa onde ribeirinhos moram
Reprodução/Rede Amazônica
Moradores de São José do Rio Maniva, no Afuá (PA) – onde o acesso é feito navegando 40 minutos de barco saindo de Macapá – trabalham há cerca de 20 anos com o manejo florestal do açaí na Amazônia. Aliado a isso, eles passaram a investir também na coleta de sementes, que são comercializadas para a grande indústria de cosméticos. A aposta deu certo e mudou a realidade da comunidade.
A exploração dos produtos da floresta, principalmente através da venda de sementes, virou a base da economia dos moradores.
O último Censo Agropecuário (de 2017) indicou que o Amapá produziu 27 mil toneladas de açaí naquele ano. O município de Afuá foi responsável pela produção de 44 mil toneladas de açaí por ano, e o mercado consumidor mais próximo é o amapaense.
Essa relação comercial junto com o manejo correto do açaí ajudam a explicar o crescimento da economia nessa região das ilhas do Pará.
Coleta de açaí na comunidade São José do Rio Maniva, no Afuá (PA)
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São José do Rio Maniva é uma das inúmeras comunidades das ilhas do Pará vizinhas da costa amapaense. Por lá fica o polo da Associação Intercomunitária do Rio Maniva, que mobiliza 180 famílias na coleta e fornecimento de sementes para uma das maiores empresas de cosméticos do Brasil.
Eles atuam com sementes ou amêndoas de andiroba, murumuru e ucuuba, também conhecida como virola, das quais se extrai o óleo vegetal refinado pela indústria. Esse trabalho começou há 4 anos, reunindo principalmente mulheres como a extrativista Benedita Oliveira.
Benedita Oliveira, extrativista da região do Afuá, durante coleta de sementes
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Com a renda conquistada através da coleta e comercialização de sementes, ela conta que comprou, por exemplo, madeira nova para a casa dela e da filha.
“Cada uma tem seu ofício, trabalha. Quando a gente faz a entrega [das sementes], a gente já tem plano do que vamos comprar. Ganhamos liberdade financeira, ganhamos liberdade como mulher também”, disse Benedita.
O presidente da associação, Geovanhi Facundes, descreve que as comunidades aprenderam a transformar os produtos da floresta em dinheiro de forma sustentável, e conta que o maior desafio foi preparar a primeira entrega.
“A meta era de uma tonelada, a gente achou um absurdo coletar uma tonelada de sementes de ucuuba. Tão pequena e num montante desse. Foi quando a gente se juntou com o grupo de mulheres aqui de Maniva e conseguimos entregar 8 toneladas dessa semente numa só entrega. Esse ano já entregamos 28 toneladas só de ucuuba”, lembrou Facundes.
Coleta de sementes possibilitou aquisição de painéis solares para ribeirinhos
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Trabalhando em consórcio com as famílias, a associação já conseguiu distribuir 12 painéis solares na região, que antes vivia de gerador movido a óleo diesel, com energia somente 5 horas por dia.
Facundes diz que o investimento em energia solar proporcionou um serviço melhor, que deu até para adquirir câmeras de monitoramento e na internet para a casa dele.
Trabalho na comunidade é acompanhado pela Embrapa do Amapá
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Desde 2000, a Embrapa Amapá acompanha as atividades. Os pesquisadores desenvolvem no local tecnologia do manejo de açaizais, sem aplicação de recursos financeiros, somente aliando conhecimento tradicional do ribeirinho ao trabalho científico.
“A gente tem mais ou menos o número máximo que pode ter de plantas em uma área. Por exemplo, um hectare possui 400 touceiras de açaizeiros, e 250 plantas de outras árvores. Então, bem distribuído no espaço, é possível aumentar a produção de açaí sem interferir na diversidade florestal”, comentou Silas Mochiutti, engenheiro agrônomo da Embrapa.
Comunidade São José do Rio Maniva, no meio da Amazônia, aproveita diversidade florestal para crescer economicamente
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Ele explica ainda que o trabalho com as sementes ajudou a diversificar os investimentos e também a proteger a floresta.
“O açaí é o que dá o maior rendimento para as comunidades. Isso tem levado algumas comunidades a reduzirem muito as outras espécies. Ao agregar outros produtos, como andiroba, murumuru e ucuuba, além de gerar uma renda extra, isso mantém a diversidade florestal”, acrescentou Mochiutti.
Quem acompanha a evolução do trabalho diz que as comunidades ribeirinhas paraenses são uma nova classe média rural. Antes era impensável encontrar uma casa toda de alvenaria no meio do rio.
É possível encontrar realidades como a de uma casa na comunidade São José do Rio Maniva, com sala mobiliada, boa televisão, com cozinha equipada para fazer a comida do dia a dia. E tudo funciona à base da organização comunitária.
Sementes da Amazônia, como o açaí, mudaram a vida de ribeirinhos
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Quando tudo começou, o presidente da Associação Intercomunitária do Rio Maniva morava em uma casa de madeira. A ideia é transformá-la em um chalé para um projeto de turismo ecológico, para fortalecer também a organização comunitária em outras ilhas da região.
“Nossa comunidade do Maniva está organizada, e estamos dando um suporte para outras comunidades sobre organização. A partir do momento que essas comunidades também estejam organizadas, a gente pode focar em outros projetos como o turismo sustentável, que é um dos próximos objetivos”, finalizou Facundes.
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