Economia

Banco Central indica novos cortes de juros e reforça recado sobre metas para as contas públicas

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Informações constam na ata da última reunião do Copom, quando taxa básica de juros passou de 12,25% para 11,75% ao ano. Patamar é o menor em quase dois anos. O Banco Central indicou nesta terça-feira (19) que vai prosseguir no processo de corte dos juros no ano de 2024. E reforçou o recado de que é importante o governo federal seguir buscando as metas indicadas para as contas públicas – incluindo a projeção de déficit zero no ano que vem.
“Com relação ao cenário fiscal, tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reafirma a importância da firme persecução dessas metas”, avaliou o BC.
As informações constam na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, realizada na semana passada, quando a taxa básica de juros da economia foi reduzida de 12,25% para 11,75% ao ano – o menor nível em quase dois anos. Foi o quarto corte seguido dos juros.
A lógica é que, sem o atingimento da meta fiscal, o governo contribui para elevar o montante de recursos disponíveis na economia – e, consequentemente, há mais dificuldade em atingir as metas de inflação fixadas para 2024 e para 2025.
É justamente para o atingimento dessas metas que o BC define o patamar da taxa de juros – que sobe para controlar a inflação e desce para estimular o consumo, a depender do cenário.
A instituição reiterou a visão de que um eventual “esmorecimento” no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal, assim como o aumento do crédito direcionado (BNDES, rural e habitacional, com juros menores) e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia (que controla a inflação e permite crescimento do PIB).
O texto cita ainda, como consequência desse cenário, possíveis “impactos deletérios sobre a potência da política monetária [de definição da taxa de juros] e, consequentemente, sobre o custo de desinflação em termos de atividade”.
As avaliações são divulgadas em um momento de dúvidas no mercado financeiro sobre o atingimento da meta de déficit fiscal zero em 2024, que depende do ingresso de um forte volume de arrecadação extraordinária.
Pesquisa realizada na semana passada pelo Ministério da Fazenda revela que o mercado projeta um resultado negativo de R$ 90 bilhões nas contas do governo no próximo ano.
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Inflação
O BC também informou que a inflação ao consumidor segue a trajetória esperada de “desinflação” (queda). Apesar disso, acrescentou que as expectativas de inflação do mercado, e do próprio BC, seguem “desancoradas” em relação às metas fixadas, o que é um “fator de preocupação”.
“O Comitê avalia que houve um progresso desinflacionário relevante, em linha com o antecipado pelo Comitê, mas ainda há um caminho longo a percorrer para a ancoragem das expectativas e o retorno da inflação à meta, o que exige serenidade e moderação na condução da política monetária”, acrescentou o BC.
Apesar disso, o Copom indicou que deve continuar baixando a taxa de juros nos próximos meses.
“Com relação aos próximos passos, os membros do Comitê concordaram unanimemente com a expectativa de cortes de 0,50 ponto percentual nas próximas reuniões e avaliaram que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”, informou o Banco Central.
Para definir a taxa básica de juros e tentar conter a alta dos preços, no sistema de metas de inflação, o BC faz projeções para o futuro.
Neste momento, a instituição já está mirando na meta do ano que vem, e também para o primeiro semestre de 2025 (em doze meses). Isso ocorre porque as mudanças na taxa Selic demoram de seis a 18 meses para ter impacto pleno na economia.
A meta de inflação do próximo ano, definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), é de 3% e será considerada cumprida se oscilar entre 1,5% e 4,5%.
A partir de 2025, o governo mudou o regime de metas de inflação, e a meta passou a ser contínua, de 3%, podendo oscilar entre 1,5% e 4,5% sem que seja descumprida.
Na semana passada, os economistas do mercado financeiro estimaram que a inflação de 2024 somará 3,93% e, a de 2025, 3,50%.
Crescimento da economia
Sobre a atividade econômica, o BC avaliou que a divulgação do PIB do terceiro trimestre pelo IBGE, com expansão modesta de 0,1%, indicou “moderação do crescimento econômico”, em linha com o esperado.
“A resiliência do consumo das famílias, que novamente surpreendeu positivamente, pode estar relacionada a um aumento da renda bruta das famílias, em função da expansão do mercado de trabalho, de benefícios sociais e de ganhos de renda relacionados à desinflação em importantes segmentos da cesta de consumo”, avaliou o Banco Central.
Por outro lado, segundo o Copom, a taxa de investimentos, que é mais sensível às condições financeiras e às perspectivas e incertezas futuras, segue em queda, após uma forte elevação ao longo do período da pandemia.
“Alguns membros avaliaram que a persistência de uma conjunção de maior resiliência do consumo e queda no investimento poderia provocar, no médio prazo, um excesso de demanda em relação à oferta, com potenciais impactos sobre preços”, concluiu o Banco Central.
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