Meio Ambiente

Alta do desmatamento, queimadas na Amazônia e óleo no litoral: o ano no meio ambiente

Alta do desmatamento, queimadas na Amazônia e óleo no litoral: o ano no meio ambiente thumbnail

Sucessão de crises ambientais levou o Brasil a receber o prêmio simbólico de ‘Fóssil Colossal’ em dezembro, por suas ações consideradas prejudiciais ao meio ambiente. Relembre em 14 pontos as principais notícias do ano. O ano de 2019 na área ambiental ficou marcado por uma sucessão de crises no Brasil, incluindo o avanço do desmatamento e das queimadas na Amazônia. O monitoramento oficial entre agosto de 2018 e julho deste ano apontou a maior área de árvores derrubadas desde 2008 na região e um aumento de 82% no número de queimadas no Brasil entre janeiro e agosto.
Também foram destaque os alertas e impactos do aquecimento global em fenômenos do clima; os embates entre o governo federal e as organizações da sociedade civil, comunidade científica e governos internacionais que financiam projetos ambientais no Brasil; a ascensão da adolescente sueca Greta Thunberg como maior voz do ativismo ambiental jovem; e as muitas toneladas de petróleo cru que contaminaram as praias de todos os estados do Nordeste e parte do Sudeste.
Relembre em 14 pontos os eventos que marcaram o ano no meio ambiente:
Aquecimento dos oceanos
Pantera negra
Servidor do Ibama exonerado
Plástico e a poluição do mar
Presidente do ICMBio pede demissão
Um milhão de espécies ameaçadas
Paralisação do Fundo Amazônia
Exoneração do diretor do Inpe
Queimadas fizeram o dia ‘virar noite’
Alta do desmatamento
Óleo no litoral
Frustação na Conferência do Clima
Salles e o Brasil na COP 25
A ascensão de Greta Thunberg
1. Aquecimento dos oceanos
Um estudo publicado em janeiro mostrou que o aquecimento dos oceanos bateu recorde. As águas do planeta atingiram as temperaturas mais altas dos últimos 60 anos. A pesquisa, feita com base nos dados mais recentes do Instituto de Física Atmosférica, na China, foi publicada na revista científica “Advances in Atmospheric Sciences”.
Icebergs durante o amanhecer perto de Kulusuk, na Groenlândia
Felipe Dana/AP/Arquivo
2. Pantera negra
Cientistas do Zoológico de San Diego, nos Estados Unidos, anunciaram em fevereiro que conseguiram fotografar um grupo de leopardo negros, conhecidos comumente como panteras negras, após quase 100 anos. Os pesquisadores monitoraram a região de Laikipia no Quênia durante meses até conseguir o registro. As imagens foram publicadas na revista científica “African Journal of Ecology”.
Pantera negra’ é fotografada pela primeira vez em 100 anos
‘Pantera negra’ é fotografada pela 1ª vez em quase 100 anos por pesquisadores do Zoológico de San Diego no Quênia
Will Burrard-Lucas/San Diego Zoo
3. Servidor expulso
No fim de março, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) exonerou o servidor José Augusto Morelli. Ele foi o responsável por uma ação de fiscalização executada em 25 de janeiro de 2012 que autuou e multou Jair Bolsonaro em R$ 10 mil por pesca ilegal.
A autuação contra Bolsonaro ocorreu na Estação Ecológica de Tamoios, em Angra, no Rio de Janeiro. A prática é proibida no local. Quando foi abordado, Bolsonaro foi fotografado por um dos fiscais em uma pequena embarcação e com uma vara de pesca.
A multa contra Bolsonaro foi anulada em 20 de dezembro pela superintendência do Ibama no Rio. Na época, ele já era o presidente eleito e, dias antes, havia anunciado que iria acabar com o que chamou de “festa” das multas do Ibama (assista no vídeo abaixo):
Bolsonaro afirma que vai acabar com o que chamou de ‘festa’ das multas do Ibama
4. Plástico e a poluição do mar
Uma baleia da espécie bicuda de Cuvier foi encontrada em Mabini, na costa das Filipinas, morta com 40 quilos de plástico em seu estômago. A informação foi divulgada em 18 de março pelos cientistas do grupo D’Bone Collector Museum, organização que visa educar as pessoas sobre a preservação do meio ambiente.
“Eu não estava preparado para a quantidade de plástico”, disse o biólogo marinho Darrell Blatchley. “Cerca de 40 quilos de sacas de arroz, sacolas de supermercado, sacolas de plantação de banana e sacolas plásticas em geral. Dezesseis sacas de arroz no total.”
Biólogo retira plásticos do estômago de baleia
D’Bone Museum/Facebook
5. Presidente do ICMBio pede demissão
Em 16 de abril, após pouco mais de três meses no cargo, o ambientalista Adalberto Eberhard pediu demissão do cargo de presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) após pouco mais de três meses à frente da instituição.
A demissão ocorreu após Eberhard acompanhar o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, em uma agenda no Rio Grande do Sul. Lá, Salles ameaçou abrir processo administrativo contra servidores do instituto que não haviam comparecido ao evento.
Presidente do Instituto Chico Mendes pede demissão após abertura de processo disciplinar
6. Um milhão de espécies ameaçadas
Um relatório da Plataforma Intergovernamental de Políticas Científicas sobre Biodiversidade e Serviços de Ecossistema (IPBES), ligada à Organização das Nações Unidas (ONU) e divulgado em maio mostrou que um milhão de espécies de animais e plantas estão ameaçadas de extinção no planeta.
O documento foi elaborado com o apoio de 145 cientistas de 50 países, no que é o considerado o relatório mais extenso sobre perdas do meio ambiente.
Um milhão de espécies de animais e plantas correm risco de extinção
7. Paralisação do Fundo Amazônia
Em 2019, o novo governo federal decidiu paralisar o Fundo Amazônia, que já captou R$ 3 bilhões em doações e financiava projetos de estados, municípios e da iniciativa privada para o desenvolvimento sustentável da Amazônia Legal.
Em 12 de agosto, o G1 noticiou que o Fundo Amazônia havia aprovado nenhum projeto em 2019. No mesmo período do ano passado, quatro haviam sido aprovados. Ao todo, 11 propostas foram apoiadas em 2018, com investimento total de R$ 191,19 milhões. Juntas, Noruega e Alemanha contribuíram para mais de 90% do total do fundo, que é administrado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
O impasse sobre o seu futuro se tornou público em maio, quando Ricardo Salles, titular do Ministério do Meio Ambiente, anunciou a intenção de alterar seu funcionamento e destinar recursos para indenizar proprietários de terras. A Noruega se recusou a endossar mudanças que prejudicassem o fundo.
Como resultado, em agosto, o Brasil deixou de receber R$ 132,6 milhões da Noruega por causa do impasse. O valor se refere ao montante ao qual o Brasil teria direito por causa dos resultados de sua política de combate ao desmatamento em 2018 (veja mais abaixo). Até dezembro, não havia confirmação de que o fundo voltaria à ativa.
Noruega suspende repasses de R$ 133 milhões para o Fundo Amazônia
8. Exoneração do diretor do Inpe
Após os dados do sistema de alertas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) apontarem o avanço do desmatamento e serem criticados pelo governo federal, Ricardo Magnus Osório Galvão, diretor do Inpe, anunciou a própria exoneração no início de agosto, após reunião com o ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, em Brasília.
O órgão que Galvão comandava foi acusado pelo presidente Jair Bolsonaro de mentir sobre os dados do desmatamento e agir a “serviço de alguma ONG”. Galvão rebateu as acusações e criticou as falas e o comportamento do presidente.
“Minha fala sobre o presidente gerou constrangimento, então eu serei exonerado”, disse Ricardo Galvão. Ele lembrou que tinha um mandato de quatro anos, mas que, apesar isso, o regimento prevê que o ministro pode substituí-lo “em uma situação de perda de confiança”.
A exoneração gerou críticas da comunidade acadêmica e, em dezembro, quase seis meses após ter perdido o cargo, Galvão foi incluído pela revista “Nature” na lista de dez pessoas que mais se destacaram na ciência em 2019.
Ex-diretor do Inpe Ricardo Galvão é escolhido um dos 10 cientistas de 2019 pela revista ‘N
9. Queimadas fizeram o dia ‘virar noite’
Em 19 agosto, São Paulo começou a tarde com o céu encoberto por nuvens e o “dia virou noite”. De acordo com os especialistas e imagens de satélite, o fenômeno estava relacionado à chegada de uma frente fria e também de partículas oriundas da fumaça produzida pelas queimadas na Amazônia.
Entre janeiro e agosto, o aumento no número de queimadas em todo o país foi de 82% em relação ao mesmo período de 2018.
A questão chamou a atenção da comunidade internacional, já que a Amazônia concentrou mais da metade dos focos de incêndio do ano. O mês de agosto registrou o maior número de focos de queimadas na Amazônia dos últimos nove anos, segundo o Inpe.
Reveja, abaixo, a reportagem especial do Fantástico sobre as queimadas na floresta:
Fantástico flagra queimadas e transporte de madeira ilegal na Amazônia
Queimadas na Amazônia chamaram a atenção da comunidade internacional
Carl de Souza/AFP
10. Alta do desmatamento
Durante o ano, o sistemas de alerta do desmatamento no Brasil, conhecido como Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), do Inpe, registrou alta de 88% em junho e de 212% em julho, na comparação com o mesmo período do ano anterior. O governo alegou que os números do Deter são apenas alertas de desmate, e que os dados oficiais são contabilizados pelo Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes), também do Inpe.
Em novembro, então, foram publicados os dados do Prodes. A área desmatada na Amazônia foi de 9.762 km² entre agosto de 2018 e julho de 2019. Trata-se de um aumento de 29,5% em relação ao período anterior (agosto de 2017 a julho de 2018), que registrou 7.536 km² de área desmatada.
É a maior área desde 2008, quando o Prodes apontou 12.911 km² desmatados e, desde 2012, o aumento anual vinha sendo de 11,4%, em média. A taxa oficial, inclusive, foi 42% maior do que apontava sistema de alertas. O problema, porém, parece não ter acabado. Em novembro, a área de desmatamento registrado no Deter dobrou em relação a novembro de 2018, e foi a maior para o mês desde 2015 (veja mais abaixo).
Áreas sob alerta de desmatamento na Amazônia dobram em novembro
11. Óleo no litoral
Em setembro, o Brasil se deparou com um mistério que até o dia 25 de dezembro ainda não havia sido solucionado: pontos da costa brasileira começaram a ser atingidos por manchas de óleo. Mais de três meses depois, a origem da contaminação ainda é desconhecida. Pedro Bignelli, coordenador-geral do Centro Nacional de Monitoramento e Informações Ambientais (Cenima), do Ibama, diz que “perdemos o timing” para encontrar o que causou o maior desastre ambiental do litoral do país.
Até 20 de dezembro, 980 localidades haviam sido afetadas. Há registro de manchas de óleo nos 9 estados do Nordeste – Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe – e também no Espírito Santo e no Rio de Janeiro.
Entenda as manchas de óleo em 5 pontos
Em 25 de outubro, a Petrobras informou que o óleo recolhido nas praias tinha características semelhantes àquele produzido na Venezuela.
Em 1º de novembro, a Polícia Federal deflagrou a Operação Mácula e apontou um navio grego como suspeito pelo derramamento: o petroleiro Bouboulina. Ele se tornou alvo da operação porque carregou 1 milhão de barris do petróleo tipo Merey 16 cru no Porto de José, na Venezuela, no dia 15 de julho, e zarpou no dia 18 com destino à Malásia, passando pelo Brasil em 28 de julho.
A operação se baseou em um relatório da empresa HEX Tecnologias Espaciais, que disse ter encontrado manchas de óleo no oceano próximo à costa por onde passou o Bouboulina. A empresa responsável pela embarcação negou a suspeita e afirmou que “não há provas” de que o navio Bouboulina vazou petróleo na costa do Brasil. Dias depois, a empresa foi notificada e, desde então, a Marinha não divulga novidades sobre a investigação.
No início de dezembro, o comandante de Operações Navais da Marinha, Leonardo Puntel, afirmou em audiência no Senado que não há provas que identifiquem o responsável pelo vazamento.
Já o Ibama disse que analisou o material relativo ao relatório e concluiu que as manchas em questão não eram de óleo: eram clorofila.
Mancha de óleo vista no litoral de Maragogi, em Pernambuco, no dia 17 de outubro
Diego Nigro/Reuters
12. Frustração na Conferência do Clima
A 25ª edição da Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU) mudou três vezes de sede, mas, no fim, frustrou os participantes e observadores. Prevista para ser sediada no Brasil, ela foi transferida para o Chile depois que o governo eleito de Jair Bolsonaro se recusou a ser anfitrião do evento. Depois, com a crise instalada no Chile e os protestos massivos contra a desigualdade, a conferência acabou sendo realizada em Madri, na Espanha.
Ela começou em 2 de dezembro e terminaria no dia 13, mas impasses nas negociações fizeram com que a COP 25 se arrastasse por mais dois dias. Anunciado em 15 de dezembro, o texto final foi considerado “minimalista” e “frustrante”, principalmente porque adiou para 2020 a tomada de decisões sobre ações coordenadas entre países contra o aquecimento global.
Se, por um lado, os quase 200 países participantes concordaram em apresentar “compromissos mais ambiciosos” para reduzir as emissões de gases poluentes no ano que vem, por outro lado não conseguiram agir com o mesmo senso de urgência exigido pela comunidade científica e grupos de jovens que protestaram em todo o mundo.
Após adiamento, acordo do clima é fechado na COP-25
13. Salles e o Brasil na COP 25
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, disse que “a COP 25 não deu em nada”, depois de voltar de Madri, onde ocorreu a conferência.
“Países ricos não querem abrir seus mercados de créditos de carbono. Exigem medidas e apontam o dedo para o resto do mundo, sem cerimônia, mas na hora de colocar a mão no bolso, eles não querem”, afirmou Salles, em sua conta no Twitter.
A atuação do Brasil na COP 25 se concentrou em pedir recursos dos países ricos para preservação no Brasil. Mas, nos últimos dias do evento, o país também protagonizou um impasse sobre artigos que tratavam da participação dos oceanos e o uso da terra nas mudanças climáticas.
“É importante o Brasil deixar claro que o problema das emissões de gases são os combustíveis fósseis. E, portanto, tem que deixar clara a tentativa de disfarçar a discussão dos combustíveis fósseis, afastar e logar para outros temas”, declarou o ministro.
“Nós temos o etanol, que é um produto exemplar para todo mundo, como biomassa renovável. Não queremos tirar o foco do grande problema de emissões, que é o combustível fóssil.” – Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente
Na reta final da COP, o Brasil recebeu o prêmio de “Fóssil Colossal”, um reconhecimento simbólico e não oficial que destaca um país por ações prejudiciais ao meio ambiente. O troféu irônico foi dado pela Rede Internacional de Ação Climática (CAN) ao “pior entre os piores” da COP 25.
Gerson Camarotti: Brasil trava negociações na Conferência do Clima
14. A ascensão de Greta Thunberg
A ativista sueca Greta Thunberg, de 16 anos, foi eleita a ‘pessoa do ano’ pela revista “Time” em 11 de dezembro. Ela ganhou fama e inspirou movimentos estudantis na luta contra o aquecimento global e em defesa da natureza. A estudante é a mais jovem a ser indicada individualmente ao título.
Em 2018, Greta deixou de ir a aulas nas sextas-feiras em Estocolmo para protestar contra o aquecimento global. O ato solitário ganhou apoio nas redes sociais e se tornou uma campanha mundial conhecida como “Fridays For Future” (ou ‘Sexta-feiras pelo Futuro’, em tradução livre).
Em março deste ano, em entrevista ao G1, Greta afirmou que poucos adultos estão escutando as demandas dos jovens. “Eles estão ocupados fazendo outras coisas para serem reeleitos”, disse ela (conheça mais sobre a jovem ativista no vídeo abaixo).
Saiba mais sobre Greta Thunberg, a jovem ativista de 16 anos
Dias antes de ganhar o reconhecimento da revista “Time”, Greta foi chamada de ‘pirralha’ pelo presidente Jair Bolsonaro. Horas depois, a jovem sueca mudou sua descrição biográfica no Twitter para “Pirralha”, em português.
Ativista Greta Thunberg é escolhida a ‘Pessoa do Ano’ pela revista Time
Reprodução/ Revista Time