Você reconhece uma criança brasiliense quando ela veste uma camiseta do Verdurão, convida as bonecas para passear no Eixão ou escolhe o Beirute como local da festa de aniversário. Sou mãe de duas assim — e me orgulho disso. Tudo acontece naturalmente: uma pergunta à boneca se ela quer dar uma volta pela pista fechada aos domingos, enquanto a outra decide que o tradicional bar da Asa Sul é o cenário ideal para celebrar a nova primavera. Afinal, filho de peixe, peixinho é.
Este mês, aprofundei-me na Política Nacional Integrada da Primeira Infância, criada pelo governo federal. O documento é um marco na proteção das crianças, especialmente as em situação de vulnerabilidade, e destaca algo essencial: o cuidado com quem cuida. Ainda falta ao país transformar essa preocupação em ação concreta — um passo fundamental para garantir uma infância saudável e plena.
Ao viver a maternidade, percebi o quanto essa dimensão é negligenciada. Nem o nosso vocabulário acompanhou a evolução: até hoje, o corretor ortográfico insiste em marcar “maternar” como erro. Sem apoio adequado — com alimentação, saneamento e políticas públicas eficazes —, é difícil cuidar com paciência e carinho. Na primeira infância, a falta de sono e o cansaço podem transformar o cuidado em desafio diário, e as soluções fáceis, como o uso de telas, acabam substituindo o afeto.
Por isso, quando vejo minha filha deixar o celular de lado para brincar de dar um passeio no Eixão com a boneca, sinto que algo deu certo. Significa que fui bem cuidada o suficiente para poder cuidar bem dela também. E é nesse gesto simples que se revela o verdadeiro DNA brasiliense — feito de afeto, pertencimento e amor pela cidade.





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