O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou que os países do Brics – e qualquer nação que se alinhe ao grupo – enfrentarão uma tarifa extra de 10% nas relações comerciais com os EUA. A decisão ocorre após Trump acompanhar de perto a última cúpula do bloco, que, apesar de ele minimizar como uma “ameaça não séria”, considera uma tentativa direta de enfraquecer os interesses norte-americanos.
“Se estão no Brics, têm que pagar 10%. O grupo foi criado para prejudicar os EUA e desvalorizar o dólar. Se eles querem jogar esse jogo, eu também sei jogar”, afirmou Trump ao anunciar as medidas.
Antiga rivalidade, novo tom
Durante seu primeiro mandato (2017–2021), Trump teve confrontos com membros do Brics como China e Rússia, mas nunca chegou a atacar diretamente o bloco, que na época era composto apenas por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Hoje, com o Brics ampliado e ganhando força política e econômica, o cenário é bem diferente.
Desde 2023, o grupo cresceu e agora reúne 11 países: além dos cinco fundadores, entraram Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Egito, Irã, Etiópia e Indonésia. Outros países como Nigéria, Cuba, Cazaquistão e Bolívia participam como parceiros. Essa ampliação, incluindo nações que mantêm boas relações com os EUA, reforça a visão de Trump de que o Brics representa um desafio direto à hegemonia americana.
Uma ameaça à ordem global liderada pelos EUA
O crescimento do Brics preocupa Washington por vários motivos. O bloco já representa cerca de 40% da economia global, superando os 28% do G7, segundo o FMI. Além disso, discute-se internamente a criação de uma moeda comum para substituir o dólar nas transações comerciais entre os membros – uma ideia apoiada pelo presidente Lula e defendida abertamente por países como a Rússia.
“A força do dólar está no fato de ele ser a principal moeda de reserva e referência para o comércio e investimentos globais. Uma alternativa a isso pode reduzir o poder econômico dos EUA”, explica Ive Ribeiro, economista e professora da PUC-SP.
China e Rússia no centro das tensões
Mais do que a moeda, a principal preocupação dos EUA está na crescente influência global de China e Rússia. A primeira tem sido o principal alvo econômico de Trump, que chegou a impor tarifas de até 145% sobre produtos chineses em seu atual mandato. Já a Rússia continua sendo vista como a maior ameaça político-militar ao Ocidente.
“O Brics funciona hoje como uma plataforma geopolítica usada por China e Rússia para expandirem suas influências e desafiar a liderança global dos EUA”, afirma Marcos Hanna, economista da Armada Asset. Ele observa que a aproximação dessas potências de países estratégicos, como Brasil e Índia, torna o bloco ainda mais relevante no cenário global.
Paulo Rebello, analista político e doutorando em Ciências Políticas pela Universidade de Salamanca, concorda: “A China, mais do que qualquer outro membro, exerce forte influência dentro do bloco. Vimos isso na recente expansão, quando, apesar da oposição de Brasil e Índia à entrada de países como Irã, a China impôs sua vontade. O Brics vem sendo usado como instrumento para desafiar o Ocidente.”
Reações do Brasil
Em resposta às declarações de Trump, o presidente Lula afirmou que o Brics não foi criado para afrontar ninguém, e criticou as tarifas anunciadas: “Não aceitaremos medidas unilaterais que visem enfraquecer nossa união e cooperação”.
Mesmo com interesses e ideologias diferentes entre os membros, o Brics cresce como alternativa à atual ordem mundial. E esse movimento, cada vez mais consolidado, acende o alerta nos EUA – especialmente sob o governo de Donald Trump, que enxerga no bloco um rival direto à influência norte-americana no mundo.
Fonte: Metropoles



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