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Economia

“O crédito será a fortaleza nas eleições de 2026”, afirma head do Bradesco Asset

Para Victor Tofolo, responsável pela área de crédito da instituição, a resiliência do crédito será mantida mesmo em um cenário de polarização política.


Victor Tofolo, head do Bradesco Asset: interesse em empresas dos setores de energia e rodovias.

Dados do Banco Central indicam que a expansão do crédito no Brasil deve alcançar 8,5% em 2025, acima da projeção inicial do mercado, de 7,7%. Victor Tofolo acompanha de perto esse movimento desde a “explosão” do crédito no início da última década, quando iniciou sua carreira no BNP Paribas. Após quase sete anos na BRZ Investimentos, ingressou no Bradesco Asset Management como gerente da área de crédito. Desde abril de 2025, lidera o setor como head de gestão de crédito, em um momento em que a indústria atinge R$ 2,5 trilhões em ativos.

Para ele, a chave para se destacar é a seletividade na composição dos portfólios. E, diante da polarização política que deve marcar as eleições de 2026, Tofolo é direto: investir em crédito continuará sendo uma fortaleza, com bons retornos e resiliência.


Como a Bradesco Asset avalia o mercado de crédito em 2025?

Foi um ano muito relevante para o mercado de capitais brasileiro, com diversas companhias buscando acesso por meio de fundos de investimento e boas opções de refinanciamento. A indústria de crédito no Brasil já movimenta R$ 2,5 trilhões. Nossa estratégia foi priorizar empresas de alta qualidade, mantendo uma gestão ativa e seletiva. Buscamos proteger nossos clientes de prazos excessivamente longos, optando por horizontes médios. O objetivo é manter distância de potenciais problemas.


Quais foram os principais desafios?

O maior desafio foi a Medida Provisória 1.303/2025, que propôs a tributação de 5% sobre rendimentos de títulos incentivados a partir de 2026, mantendo isenção apenas para papéis e fundos emitidos até dezembro deste ano. O governo pretendia aumentar a arrecadação sobre debêntures incentivadas, o que gerou uma corrida por esses papéis antes da possível taxação. Isso poderia causar um grande influxo de recursos em 2026.


O cenário eleitoral de 2026 pode elevar o temor por gastos públicos?

A questão fiscal sempre está no radar, mas a tendência é de inflação controlada ao longo de 2026, o que deve permitir uma descompressão da Selic já no início do ano. Devemos encerrar 2026 com a taxa em torno de 12%, cerca de três pontos abaixo do patamar atual. Mesmo com juros elevados, a Bradesco Asset administra R$ 480 bilhões em crédito, com boa performance nos fundos de crédito privado. Conseguimos nos proteger bem das turbulências do mercado.


O mercado tem apostado nos Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs). Qual é a sua visão sobre eles?

O FIDC é um instrumento flexível, que permite explorar direitos creditórios em essência. O mercado brasileiro evoluiu culturalmente nesse segmento, impulsionado por instituições como o BNDES. Há grande procura por ativos como consignado, financiamento de consumo, energia solar e antecipação de recebíveis de cartão de crédito, entre outros.


Os FIDCs também têm olhado para ativos ambientais?

ESG é um tema de grande interesse dos investidores, mas é preciso avaliar o mercado como um todo. O segmento de energia solar representa entre R$ 2 e R$ 3 bilhões, enquanto o mercado total de FIDCs soma cerca de R$ 700 bilhões. O momento é propício para quem deseja montar planos de negócios em direitos creditórios, pois há oportunidades em diversos setores.


E quanto às debêntures incentivadas?

Os retornos têm sido expressivos, especialmente nos fundos de debêntures incentivadas, beneficiados pela compressão dos spreads. Ainda assim, o cenário exige cautela.


Por quê?

Por fatores microeconômicos. Algumas empresas enfrentaram fortes marcações ao longo do ano devido às altas taxas de juros, que comprometem o fluxo de caixa. Por isso, seguimos adotando um tom de seletividade, priorizando companhias sólidas e prudentes em seus investimentos.


Como é feita a escolha das empresas que compõem o portfólio?

Focamos nos vencedores setoriais — empresas que mantêm bom desempenho mesmo em momentos de crise. Nossas decisões refletem o cenário projetado para os próximos 12 meses. Buscamos negócios que demonstrem solidez diante dos juros elevados.


Quais setores têm mais destaque?

Energia e rodovias estão no radar, por serem setores de baixa volatilidade e com grande presença em ativos reais de infraestrutura. O crédito brasileiro ainda representa um porto seguro para investidores. Se 2024 e 2025 foram anos positivos, o otimismo deve continuar em 2026, embora com as devidas cautelas.


A MP 1.303 não traria mais transparência ao mercado?

A proposta evidenciou o quanto os investidores valorizam a isenção tributária. Isso gerou forte movimento entre julho e setembro, com captação recorde em debêntures incentivadas. Com a não aprovação da MP, o mercado voltou à normalidade. A discussão agora é sobre qual será o spread justo desses papéis, que continuam atraentes para os investidores. Outras classes, como FIAGRO, CRA e CRI, também compõem as carteiras de crédito. A gestão ativa é fundamental para proteger o portfólio e assegurar boa administração aos cotistas.


Por que o crédito continuará sendo uma boa aposta em um ano eleitoral?

O cenário eleitoral será disputado, mas o crédito tende a ser uma fortaleza devido à sua menor volatilidade. Historicamente, esse mercado tem mostrado resiliência em diferentes contextos. Esperamos uma Selic média entre 12% e 13% em 2026, o que mantém a atratividade do crédito privado frente a outras classes de investimento. Com uma gestão seletiva, será possível garantir bons retornos aos investidores no próximo ano.