Cantora, que morreu nesta segunda-feira aos 75 anos, falou em entrevista ao GLOBO sobre angústias, crises pessoais e sua “loucura construtiva”
Em abril de 1984, durante o lançamento do disco “A Vida é Mesmo Assim”, Angela Ro Ro concedeu uma entrevista à repórter Ana Maria Bahiana, do jornal O Globo. Aos 34 anos, a cantora alternava bom humor e desabafos sobre um período marcado por crises pessoais e desilusões.
Entre piadas sobre peso e histórias de seus quatro gatos de estimação, Angela revelou a solidão que sentia em momentos de dificuldade. “Na hora de usufruir da piscina em casa, acampar no jardim, beber minha bebida, aparece todo mundo. Mas, quando eu me arrastava até o orelhão e ligava pedindo ajuda, todo mundo sumia”, disse.
A artista também refletiu sobre sua vida intensa e sua relação com a criação artística. “Dolores Duran teve culpa de viver paixões violentas? Janis Joplin de morrer aos 27 anos? Noel Rosa de ser boêmio? A luz da criação vem dessas tempestades, e não das vidas caretas”, afirmou.
No mesmo bate-papo, Angela deixou claro que não se encaixava em padrões sociais: “Não podem é querer que eu seja uma mocinha de classe média comportada. Isso eu nunca vou ser. Minha loucura é construtiva”.
O álbum “A Vida é Mesmo Assim” refletia esse espírito. Entre as faixas, estavam “Fogueira”, gravada por Maria Bethânia no ano anterior, e “Nenhum lugar”, de Sueli Costa e Tite de Lemos, que Angela disse ter interpretado “aos prantos”.
Em meio à angústia, ela revelou que chegou a acreditar que morreria. Mas também contou como encontrou forças: “Descobri mãe, pai, gente como Antonio Adolfo e João Donato, que ia me visitar e me dava força. Com eles e com a ajuda de mim mesma, saí do buraco”.
Angela Ro Ro faleceu nesta segunda-feira (8), aos 75 anos, deixando mais de 270 músicas registradas e uma carreira marcada pela intensidade artística e pessoal.





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