Com a indústria impactada pelos juros elevados e pelas incertezas externas, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) revisou a projeção do PIB industrial para 2025, reduzindo-a de 2% para 1,7%, conforme o Informe Conjuntural do 2º trimestre. Em contrapartida, a agropecuária ganhou ainda mais peso na economia, com a estimativa de crescimento do setor subindo de 5,5% para 7,9%, consolidando o campo como principal motor da atividade no próximo ano.
Segundo a CNI, o desempenho do mercado de trabalho também deve ajudar a sustentar o crescimento do PIB em 2,3%, mesmo diante do impacto das tarifas americanas sobre as exportações brasileiras.
Para o diretor de Economia da CNI, Mário Sérgio Telles, a manutenção da projeção geral do PIB esconde um cenário mais preocupante. “Quando a gente abre os números, aí sim identificamos um problema e uma composição pior. Para a indústria, realmente está decepcionando. O crescimento do setor está cada vez mais reduzido, enquanto a projeção para o PIB não se altera porque a safra agrícola se mostrou até um pouco maior do que esperávamos”, afirma.
Telles destaca ainda que as tarifas impostas pelos Estados Unidos, embora relevantes, não são atualmente o principal entrave para o setor industrial. “O que tem impactado realmente são as taxas de juros, principalmente, e o volume enorme de importações”, disse.
Cenário da indústria: exportações sob pressão
O cenário externo também adiciona incertezas. Embora o volume exportado tenha subido 2% entre janeiro e julho, a queda de preços no mesmo período reduziu o valor em dólares. Com isso, a CNI revisou para baixo a previsão de exportações brasileiras em 2025, de US$ 347,3 bilhões para US$ 341,9 bilhões, uma queda de US$ 5,4 bilhões em relação ao primeiro trimestre.
O tarifaço imposto pelos Estados Unidos deve agravar a situação. A CNI alerta que a taxa de 50% sobre parte das vendas brasileiras para o mercado norte-americano pode reduzir de forma significativa o fluxo da indústria de transformação.
Cenário da indústria: avanço moderado
A indústria de transformação, que cresceu 3,8% em 2024, terá um avanço mais modesto em 2025, com expectativa de 1,5%. O resultado reflete juros elevados, aumento das importações e queda prevista nas exportações.
“Quase toda essa redução da projeção de crescimento para a indústria se deve à queda esperada na indústria de transformação. É um segmento que precisa ser muito observado, porque enfrenta grande concorrência de produtos importados. Mesmo com políticas como a nova Indústria Brasil, o plano Brasil Mais Produção e a depreciação acelerada, o crescimento da indústria de transformação está se reduzindo significativamente em relação a 2024”, ressalta Telles.
A construção deve crescer 2,2%, impulsionada pela continuidade de obras lançadas no ano passado e pelo programa Minha Casa, Minha Vida. A indústria extrativa também deve ganhar força, com expectativa de alta de 1% para 2%, impulsionada pela produção de petróleo.
Cenário da indústria: agro e trabalho no comando
Com clima favorável, produção recorde e forte demanda externa, a agropecuária deve liderar a economia em 2025, com crescimento de 7,9%. O setor de serviços terá expansão modesta de 1,8%, sustentada pelo mercado de trabalho aquecido e pela elevação da massa salarial.
A taxa de desocupação deve cair para 6%, o menor nível histórico pelo segundo ano consecutivo, enquanto a massa de rendimento real deve crescer 5,5%.
Cenário da indústria: juros e inflação
A inflação deve encerrar o ano em 5%, acima dos 4,8% de 2024, mas em trajetória de desaceleração. Diante desse cenário e das incertezas externas, a CNI prevê que o Banco Central manterá a taxa Selic em 15% ao ano até o fim de 2025.
Cenário da indústria: contas públicas
A CNI projeta que o governo cumprirá a meta fiscal. O déficit primário deve ficar em R$ 22,9 bilhões, equivalente a 0,2% do PIB, abaixo do limite estabelecido de R$ 31 bilhões. Ainda assim, a dívida pública continuará em trajetória de alta, passando de 76,5% para 79% do PIB em 2025.





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