Integrantes da família Bolsonaro têm dito a aliados que ele está apreensivo com a possibilidade de ter de cumprir pena em regime fechado. A decisão caberá ao ministro Alexandre de Moraes, relator do caso.
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) completa cem dias em prisão domiciliar nesta quarta-feira (12), sob temor de transferência para um presídio para cumprir pena e enquanto enfrenta um enfraquecimento político.
Os últimos meses foram marcados por disputas internas em seu grupo político: do racha do Centrão com a direita no episódio do tarifaço imposto por Donald Trump — tendo Eduardo Bolsonaro (PL-SP) como protagonista — à crise em Santa Catarina pela vaga ao Senado em 2026, envolvendo Carlos Bolsonaro (PL-RJ).
Em entrevista à Folha no final de março, Bolsonaro afirmou que uma prisão significaria o fim não apenas de sua carreira política, mas de sua vida. À época, ele ainda estava solto, ativo pelo partido, com viagens pelo país. Seu argumento passava pelo fato de ter 70 anos e responder por crimes que, somados, resultam em décadas de pena.
Atualmente, ele enfrenta a possibilidade real de ser transferido para a Papuda, presídio em Brasília, para cumprir pena de 27 anos e três meses, após ser condenado por liderar a trama golpista de 2022.
O primeiro recurso de Bolsonaro foi rejeitado por unanimidade pelos quatro integrantes da Primeira Turma do STF (Supremo Tribunal Federal), em julgamento virtual que será encerrado oficialmente na sexta-feira (14). A defesa deve apresentar novos recursos, mas a expectativa é de que a Corte considere a ação encerrada até dezembro.
Fontes próximas à família afirmam que Bolsonaro está apreensivo com a possibilidade de cumprir pena em regime fechado. A decisão caberá ao ministro Alexandre de Moraes, relator do caso.
Apesar de tentar manter o bom humor, fazendo piadas com visitantes e mantendo rotina de exercícios físicos, há relatos de um Bolsonaro abatido, que passa o dia de bermuda e chinelos, referindo-se à tornozeleira eletrônica como uma “humilhação”. Amigos apontam que sua saúde emocional vem piorando diante da iminência da decisão final do STF.
Seu irmão, Renato Bolsonaro, afirmou na última sexta-feira (7) que, se o ex-presidente for mandado para a Papuda, será porque “a Justiça quer que ele morra na cadeia”.
Atualmente, parte dos interlocutores de Bolsonaro já admite a possibilidade de transferência temporária para a Papuda, com eventual retorno à prisão domiciliar por motivos de saúde. Essa hipótese ganhou força após visita recente da chefe de gabinete de Moraes ao presídio.
Outra alternativa discutida seria sua transferência para uma sala especial na Superintendência da Polícia Federal, como ocorreu com Lula (PT) em Curitiba. A possibilidade de ser levado para uma instalação militar é hoje considerada a menos provável, apesar de Bolsonaro ser capitão reformado.
Caso seja efetivada a transferência para o regime fechado, a expectativa é de uma mobilização restrita de apoiadores. Até o momento, não houve articulação significativa do grupo, que enfrenta dificuldades de comunicação com o líder preso e disputas internas pelo espólio político de Bolsonaro.
A permanência de Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos tem gerado instabilidade. De lá, ele tem reforçado críticas a aliados, especialmente a governadores de direita, como Tarcísio de Freitas (Republicanos), e até ameaçado se lançar à Presidência, mesmo à distância.
Outro alvo frequente é o senador Ciro Nogueira (PP-PI), com quem mantém discussões públicas.
O Centrão e alas do PL defendem que Bolsonaro anuncie ainda neste ano um sucessor para disputar o Palácio do Planalto em 2026.
Os filhos, no entanto, resistem a essa ideia. Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro afirmaram recentemente que o ex-presidente continua sendo o candidato da direita.
Alguns interlocutores tentam apaziguar os ânimos, pedindo união entre os bolsonaristas e adiamento das disputas internas para depois de 2026.
Mesmo assim, os rachas internos se multiplicam. Em Santa Catarina, um dos estados mais bolsonaristas do país, o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ) tenta se lançar ao Senado, o que gerou atrito com Carol de Toni (PL-SC) e Ana Campagnolo (PL-SC), ambas aliadas do grupo.
A ala moderada alerta que as brigas internas fortalecem Lula, que vem crescendo nas pesquisas e hoje é o nome mais forte para 2026.
Desde a prisão de Bolsonaro, em agosto, o petista melhorou sua imagem e se aproximou de Donald Trump para negociar tarifas comerciais — movimento que enfraqueceu ainda mais o discurso de soberania do bolsonarismo.
Pano Final
Após cem dias de prisão domiciliar, Jair Bolsonaro enfrenta isolamento político, desgaste emocional e divisões internas no grupo que o apoiava. Enquanto seus aliados se fragmentam e sua liderança se enfraquece, o ex-presidente vive à sombra da decisão final do STF, que definirá seu destino — e, possivelmente, o futuro da direita no Brasil.





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