Crise comercial entre Brasil e EUA se aprofunda com tarifas de Trump. Governo brasileiro ainda não apresenta estratégia clara, enquanto tensão política cresce nos bastidores.
Desde o anúncio das tarifas pesadas impostas pelos Estados Unidos ao Brasil — o chamado “tarifaço” —, o país deixou a condição de “mais um na fila” para ocupar uma vala diplomática ainda mais profunda. O motivo, segundo fontes diplomáticas e do setor privado, é claramente político.
Enquanto outras nações também foram afetadas por medidas protecionistas do governo Trump, o Brasil passou a ser tratado de maneira distinta, com sinais de retaliação política explícita. A situação, até o momento, não encontra saída concreta.
De um lado, o vice-presidente Geraldo Alckmin conversou com o secretário de Comércio dos EUA. De outro, empresários brasileiros e americanos buscaram interlocução via lobistas. No entanto, segundo apuração, nenhuma dessas iniciativas chegou à Casa Branca.
No campo político, o clima também é de tensão crescente. O Departamento de Estado norte-americano voltou a fazer publicações criticando o ministro do STF Alexandre de Moraes e defendendo o ex-presidente Jair Bolsonaro, reforçando o tom de confronto.
Enquanto isso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva respondeu com ironia, dizendo em discurso público que Trump “ainda não ligou” e que o republicano “não quer negociar”. Lula afirmou ser bom jogador de truco, jogo em que o blefe, a sorte e a estratégia caminham juntos.
Contudo, não há uma estratégia clara do governo brasileiro para lidar com Trump — e, de acordo com analistas e representantes do setor privado, o Brasil tampouco dispõe de cartas fortes para blefar. Empresários argumentam que falta atuação ativa do governo em Washington, especialmente no diálogo direto com o alto escalão americano.
O Planalto, por sua vez, afirma estar aberto a discutir temas comerciais, mas rejeita qualquer pauta política imposta por Washington — uma posição coerente do ponto de vista da soberania, mas que torna as tratativas ainda mais difíceis.
“Como costuma fazer em momentos de crise, Lula simplificou o embate a uma partida de truco. Mas, sem cartas fortes e sem estratégia clara, resta ao Brasil confiar na sorte”, resume Waack.





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