O Dnocs, criado em 1909 e historicamente responsável por obras essenciais para convivência com a seca no Nordeste, tem sido cada vez mais usado para um fim totalmente diferente: pavimentação de ruas.
Uma auditoria da CGU revelou que, entre 2021 e 2023, 60% dos R$ 1,85 bilhão contratados pelo órgão foram destinados a asfalto ou compra de máquinas agrícolas — atividades fora da missão original. Enquanto deveria construir barragens, adutoras e poços, o departamento passou a executar obras indicadas por emendas parlamentares.
As investigações apontam ainda suspeitas de superfaturamento, obras mal executadas e contratos fraudulentos, o que motivou operações da Polícia Federal, inclusive mandados autorizados pelo STF contra uma possível organização criminosa que teria desviado mais de R$ 22 milhões.
O TCU já havia alertado que o Dnocs não possui capacidade técnica para fiscalizar obras de pavimentação, classificando a situação como “irregularidade grave”. Mesmo assim, as emendas continuam direcionando o órgão para funções que não fazem parte de sua missão institucional, esvaziando sua atuação central no combate à seca — justamente no momento em que seu quadro de servidores caiu de 803 para 532 em apenas três anos.
Especialistas apontam motivação eleitoral: obras visíveis, como pavimentação, geram capital político mais imediato nas bases dos parlamentares. Enquanto isso, o Nordeste segue enfrentando desafios históricos de abastecimento hídrico, enquanto o principal órgão federal dedicado ao tema tem sua atuação desviada.





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