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COP30: Cúpula dos Povos critica omissão de países na tomada de decisão

Evento reúne cerca de 1,3 mil movimentos sociais em Belém
Luciano Nascimento – Enviado Especial
Belém (PA)

A Cúpula dos Povos foi aberta oficialmente nesta quarta-feira (12) com discursos que criticaram a falta de participação popular na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) e com manifestações em defesa da Palestina. Para organizações e movimentos sociais, países e tomadores de decisão têm se omitido ou apresentado soluções insuficientes, colocando em risco a meta de 1,5°C prevista no Acordo de Paris.

O evento reúne cerca de 1,3 mil movimentos sociais, redes e organizações populares de diversas partes do mundo e ocorre até 16 de novembro, na Universidade Federal do Pará (UFPA), às margens do Rio Guamá, em Belém.

Ayala Ferreira, integrante da coordenação da Cúpula e do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), destacou a mobilização internacional para pressionar os governos durante a COP.

“Decidimos, há mais de dois anos, que deveríamos construir um dos maiores levantes da classe trabalhadora do país, mobilizando também trabalhadores do mundo inteiro”, afirmou.

A expectativa é que mais de 30 mil pessoas passem pelo evento, construído como uma resposta direta dos povos àquilo que definem como “inércia e falta de compromisso” da COP. Segundo as lideranças, após 30 edições, o encontro climático ainda apresenta resultados limitados e mantém populações vulneráveis fora do processo decisório.

Antes da abertura, centenas de participantes desfilaram com bandeiras em defesa das águas, contra a mineração e os combustíveis fósseis. Movimentos ribeirinhos, quilombolas, sem-terra, pessoas com deficiência, quebradeiras de coco e atingidos por barragens marcaram presença. Bandeiras da Palestina também estavam espalhadas pelo campus, com gritos de “Palestina livre”.

O ativista palestino Jamal Juma afirmou:

“Da Palestina até a Amazônia, os crimes contra a humanidade continuam. Mesmo com o acordo firmado há dois meses, os crimes de Israel seguem acontecendo.”

Ao longo da programação, estão previstos debates sobre territórios e soberania alimentar, reparação histórica, racismo ambiental, transição energética justa, enfrentamento ao extrativismo fóssil, governança participativa, democracia, internacionalismo dos povos, cidades justas, periferias vivas e feminismo popular.

O manifesto da Cúpula dos Povos defende a união das pautas socioambiental, antipatriarcal, anticapitalista, anticolonial, antirracista e de direitos humanos, respeitando a diversidade e especificidades dos povos.

Ivan González, da Confederação Sindical dos Trabalhadores das Américas (CSA-TUCA), destacou as dificuldades de participação popular nas negociações internacionais:

“Pessoas comuns não têm milhões para influenciar decisões dos governos, especialmente na COP. Estamos aqui para mostrar que o povo defende o planeta.”

Soluções populares e resistência climática

A Cúpula destaca que as “falsas soluções climáticas”, somadas a eventos extremos — secas, cheias, deslizamentos —, aprofundam desigualdades e injustiças ambientais.

Representantes do MTST lembraram que movimentos sociais já desenvolvem tecnologias populares de enfrentamento da crise, como as cozinhas solidárias, criadas durante a pandemia e utilizadas recentemente para atender famílias atingidas por enchentes no Rio Grande do Sul.

Além dos debates, a programação inclui a Feira dos Povos, a Casa das Sabedorias Ancestrais e apresentações artísticas de grupos da Amazônia e de outras regiões do país.