Laboratório brasileiro fortalece parcerias com empresas alemãs para expandir portfólio no Brasil e potencialmente multiplicar negócios com o SUS
A Herbarium, maior laboratório brasileiro de fitoterápicos, atravessa 2025 com crescimento robusto e foco renovado em seu core business de medicamentos naturais. Após a volatilidade provocada pela pandemia e dois invernos abaixo da curva histórica, a sazonalidade voltou a favorecer o mercado farmacêutico, encontrando a companhia mais organizada comercialmente.
“Fizemos uma reestruturação comercial, ativamos melhor nossas ferramentas de marketing e a força de vendas”, afirmou o CEO Marcelo Geraldi em entrevista ao Brazil Economy. “O mercado melhorou e nós também estávamos melhor estruturados.” O resultado é um avanço previsto de cerca de 20% sobre 2024 e um faturamento consolidado de aproximadamente R$ 450 milhões em 2025, considerando Herbarium e a joint venture com a alemã Schwabe.
Cannabis medicinal: motor de crescimento
O vetor de maior expansão segue sendo a linha de cannabis medicinal. A empresa, uma das primeiras farmacêuticas a entrar no segmento após a regulamentação da Anvisa, hoje oferece extrato Full Spectrum e canabidiol isolado em três apresentações. Segundo Geraldi, somente esse negócio deve crescer cerca de 140% em 2025, mesmo com a competição acirrada e movimentos mais agressivos de preços.
“Acreditamos que o segmento continuará crescendo, embora a velocidade deva diminuir. Nossa projeção é que a cannabis represente entre 15% e 20% do nosso negócio até o fim da década”, disse o CEO.
O aumento da prescrição médica ajuda a explicar a tração. O universo de médicos que prescreviam cannabis no Brasil era estimado em cerca de 18 mil há poucos anos; hoje, o contingente alcançou dezenas de milhares, refletindo maior esclarecimento científico e educação médica pelas farmacêuticas.
“Não é simples de prescrever. O médico precisa titular a dose e acompanhar em uma, duas e quatro semanas. Especialidades como neurologia e psiquiatria já têm esse manejo, mas em áreas gerais a curva de aprendizado é maior”, explicou Geraldi.
Cadeia de suprimentos e produção nacional
A companhia ainda depende de importação para parte do portfólio: um produto vem acabado do Uruguai e outro utiliza matéria-prima da Colômbia para fabricação local. O cultivo em larga escala no Brasil ainda não está regulamentado, mas, se avançar, pode reduzir custos em 30% a 35%, aumentando acesso e competitividade.
Fitoterapia e inovação
Paralelamente à cannabis, a Herbarium fortalece sua vocação histórica em fitoterapia, com um dos corpos técnicos mais especializados do país para desenvolvimento e registro de extratos padronizados. Essa capacidade permitiu aprovar medicamentos inovadores de players globais.
Em 2025, a companhia lançou o Canephron, da parceira alemã Bionorica, para tratamento de cistite, combinando alívio de sintomas sem interferir na cultura microbiana. No início de 2026, chega o Sinupret, também da Bionorica, com abordagem multialvo para sinusite, atuando na redução de inflamação, dor e fluidificação do muco — potencialmente substituindo combinações de antialérgicos, sprays nasais, anti-inflamatórios e analgésicos.
Parcerias internacionais
As colaborações internacionais são eixo estratégico. Cerca de 15% a 20% do faturamento vem de um acordo com outra farmacêutica alemã e um quarto do negócio está na joint venture com Schwabe, maior grupo de fitoterapia do mundo. A tese é posicionar a Herbarium como um hub de terapias naturais no Brasil, atraindo tecnologias com exclusividade e cocriando novos projetos.
Distribuição e presença digital
O canal farma segue como prioridade, abastecendo grandes redes como Raia, DPSP e Pague Menos, com capilaridade nacional via distribuidoras como Santa Cruz, alcançando lojas independentes. O e-commerce próprio funciona como vitrine, garantindo que o consumidor encontre todo o portfólio quando não disponível na farmácia.
Estimativas internas indicam que 15% a 20% das vendas já fluem por canais online dos clientes, podendo chegar a 30% a 33% no longo prazo, acompanhando tendências do varejo farmacêutico.
Participação no SUS e foco estratégico
A presença em programas públicos existe, mas não é alavanca principal. Fitoterápicos tradicionais fornecidos ao SUS representam menos de 2% da receita. A Herbarium mantém padrões de qualidade elevados, o que nem sempre é competitivo em licitações baseadas em preço.
A disciplina estratégica também prevalece no portfólio. A empresa testou a entrada em dermocosméticos, mas recuou. “A competitividade e especificidade do segmento são muito altas e a sinergia com a indústria farmacêutica de rigor não foi a esperada. Vamos concentrar energia no que fazemos melhor: medicamentos naturais”, disse Geraldi.
Perspectivas e ambições
O ciclo de 2025, reforçado por um inverno mais rigoroso e lançamentos com tese clínica clara, sustenta a confiança no médio prazo. Mesmo sem a contribuição extraordinária da cannabis, o crescimento orgânico ainda seria de meados de dois dígitos.
A meta de longo prazo inclui atingir R$ 1 bilhão em receita no início da década de 2030, com a cannabis representando 15% a 20% do negócio, registro e escala de novos fitoterápicos e expansão contínua do digital no varejo farmacêutico.
“O Brasil está mais receptivo a terapias naturais com evidência e padronização. Quando unimos ciência, educação médica e acesso, conseguimos destravar categorias inteiras”, acrescentou Geraldi.
Com pipeline ativo, parcerias estratégicas e execução comercial mais afiada, a Herbarium entra na próxima temporada com ambição de liderar novos nichos na interseção entre fitoterapia e inovação farmacêutica.





Add Comment