Em fala de abertura na 80ª Assembleia Geral, presidente propõe criação de um Conselho do Clima nas Nações Unidas, mas evita abordar diretamente a transição energética
Por Cristiane Prizibisczki – 23 de setembro de 2025
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva abriu nesta terça-feira (23) a 80ª Sessão da Assembleia Geral da ONU, em Nova York. Em seu discurso, destinou pouco mais de três dos cerca de 18 minutos à crise climática e voltou a defender a criação de um Conselho do Clima na ONU, nos moldes do Conselho de Segurança, como forma de dar mais legitimidade e coerência às decisões globais sobre mudanças climáticas.
“O mundo deve muito ao regime criado pela Convenção do Clima. Mas é necessário trazer o combate às mudanças climáticas para o coração da ONU, para que tenha a atenção que merece. Um Conselho vinculado à Assembleia Geral poderá monitorar compromissos e dar coerência à ação climática”, disse Lula.
O que foi dito
Lula destacou:
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que a COP 30, a ser realizada no Brasil em 2025, será a “COP da verdade”;
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os avanços do país na redução do desmatamento;
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a necessidade de os países desenvolvidos assumirem maior responsabilidade no enfrentamento da crise;
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a importância da apresentação de novas metas nacionais (NDCs), cujo prazo vence nesta quarta-feira (24).
Apesar disso, o presidente não mencionou em sua fala o fim da exploração de combustíveis fósseis, um dos principais pontos de pressão da comunidade internacional.
Repercussões
O Observatório do Clima (OC) considerou a fala “correta, mas previsível”, lembrando que a proposta de criação de um Conselho do Clima já havia sido apresentada anteriormente pelo Brasil. Segundo a rede, a iniciativa busca destravar decisões que há anos estão paralisadas nas negociações internacionais, mas ainda não há clareza sobre como o mecanismo funcionaria.
Já a 350.org criticou a ausência de menção ao petróleo. A entidade lembrou que o Brasil pretende se tornar o quarto maior produtor mundial e que isso coloca em xeque a imagem de liderança climática defendida pelo governo.
“Não há redução no desmatamento que supere as emissões do petróleo e do gás. Para falar em transição justa, o Brasil precisa parar de apostar nos fósseis e apresentar um Plano Nacional de Transição Energética com metas concretas, que incluam comunidades indígenas e tradicionais em seu centro”, afirmou Ilan Zugman, diretor da organização na América Latina.
Contexto
O discurso de Lula também tratou de outros temas, como soberania nacional, tarifaço americano, regulação de plataformas digitais, conflitos armados e a crise no multilateralismo. Para analistas, essa ampla pauta explica o espaço relativamente pequeno dedicado ao clima em sua fala.





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