O colunista do Financial Times (FT), Edward Luce, publicou nesta terça-feira (22/07) um artigo com duras críticas à imposição de tarifas contra o Brasil por parte do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Segundo Luce, ao justificar as tarifas com críticas às investigações e ao processo judicial contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, o governo Trump estaria “punindo o sistema legal de uma democracia-irmã por aplicar a lei”.
De acordo com o colunista — que também é editor do jornal britânico — os paralelos entre Trump e Bolsonaro são evidentes. “A diferença é que Bolsonaro está sendo responsabilizado”, afirma.
Além de Trump, Luce também criticou a postura do senador republicano Marco Rubio, atual secretário de Estado no governo Trump. O texto lembra que Rubio anunciou a revogação do visto americano de Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e relator da ação penal em curso contra Bolsonaro, além de outras investigações.
“O mundo presta atenção ao que os Estados Unidos fazem, não ao que dizem. Mas, se existe um farol liberal democrático hoje em dia na área de Rubio, ele vem de Brasília e Ottawa. Por enquanto, Washington está fora”, escreveu o colunista.
Ao mencionar a capital canadense, Luce aponta que países como o Canadá e o Brasil têm se beneficiado politicamente da guerra tarifária imposta pelos Estados Unidos, o que, segundo ele, acaba fortalecendo a popularidade de seus líderes — como Lula.
“Em queda nas pesquisas? Rumo ao esquecimento eleitoral? Mark Carney, do Canadá, Anthony Albanese, da Austrália, e agora Luiz Inácio Lula da Silva, do Brasil, têm uma solução para você: faça com que Donald Trump lance uma guerra comercial contra o seu país. Poucas coisas unem os eleitores em torno da bandeira mais rápido do que um ataque de uma superpotência às suas receitas”, ironiza Luce.
Ex-chefe dos escritórios do FT em Washington e no sul da Ásia, Luce destaca que, embora Trump se orgulhe de sua imprevisibilidade, há um padrão em suas ações.
“Mesmo nos termos mercantilistas de Trump, suas decisões não fazem sentido. Os Estados Unidos têm superávit comercial com o Brasil. O país de Lula deveria, portanto, ter sido isento das tarifas do ‘dia da libertação’ de Trump”, argumenta.
O colunista ainda contesta a lógica de uma possível motivação política por trás das tarifas.
“Se o objetivo fosse ajudar um colega ‘homem forte’ — no caso, Bolsonaro —, isso também não se sustenta. Entre os principais prejudicados com uma tarifa americana de 50% sobre o Brasil estariam pecuaristas e exportadores de café, setores majoritariamente alinhados a Bolsonaro. Trump está, portanto, ajudando Lula, não Bolsonaro. Não é surpresa que a sorte de Lula tenha se recuperado”, escreve.
Luce conclui que Trump está agindo para “promover autocracias”, o que deixa “democracias-irmãs compreensivelmente alarmadas”.
Ele cita o exemplo da Turquia, que, mesmo com superávit comercial em relação aos EUA, foi atingida por uma tarifa de apenas 10%.
“Não é pecado, aos olhos de Trump, que Erdogan [presidente da Turquia] tenha recentemente prendido vários prefeitos da oposição, incluindo Ekrem İmamoğlu, de Istambul, seu provável oponente presidencial. A inclinação de Erdogan para a autocracia pode até ter levado Trump a ter uma visão mais favorável da Turquia”, analisa.
Por fim, Luce aponta que os conselheiros econômicos de Trump deveriam agir com mais firmeza.
“Se conseguirem ser ouvidos, podem alertar que Trump está sabotando sua própria agenda. Para eles, as tarifas deveriam servir para fortalecer a indústria americana. Trump, no entanto, usa essa ferramenta conforme sua conveniência. E, convenhamos, ele gosta de homens durões”, finaliza.





Add Comment