A recente carta enviada pelo presidente dos EUA, Donald Trump, ao governo brasileiro elevou a tensão diplomática entre os dois países. No documento, Trump anunciou sobretaxas de 50% sobre exportações brasileiras a partir de 1º de agosto, além de criticar diretamente o Executivo e o Judiciário do Brasil. Especialistas apontam que a iniciativa tem forte viés político e eleitoral, algo considerado inédito na história das relações bilaterais.
Segundo analistas, a ação representa um gesto de apoio à oposição brasileira, em especial ao ex-presidente Jair Bolsonaro, e busca enfraquecer o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em meio a uma disputa global entre EUA e China por influência.
Paralelo com a “guerra do algodão”
A última crise comercial de grande impacto entre Brasil e EUA ocorreu no governo Lula em 2007, durante a chamada “guerra do algodão”, que envolvia subsídios ilegais concedidos por Washington. No entanto, à época, a disputa ficou restrita à área comercial, sem o atual peso político.
O ex-secretário de Comércio Exterior Welber Barral destacou que Trump tem rompido pontes diplomáticas, inclusive com antigos aliados, e que a falta de interlocução de alto nível entre Brasil e EUA agrava a situação. Ele também citou que o tom da carta pode ter sido influenciado pela cúpula dos Brics, realizada no Brasil, onde Lula defendeu uma redução da dependência do dólar e estreitou laços com a China.
Viés ideológico e interferência política
Para o cientista político Guilherme Casarões (FGV), a carta de Trump é mais um capítulo da rivalidade EUA-China e tenta aproveitar o momento de fragilidade do governo Lula para influenciar o cenário eleitoral de 2026.
O economista e prêmio Nobel Paul Krugman também comentou o episódio. Em artigo, afirmou que Trump “mal tentou justificar economicamente” as tarifas e que o objetivo foi claramente punir o Brasil pelo julgamento de Bolsonaro, investigado pelo STF por tentativa de golpe.
Falta de articulação diplomática
O ex-embaixador Rubens Barbosa criticou a inatividade diplomática do governo Lula, que não criou canais de diálogo com a gestão Trump, ao contrário da oposição bolsonarista, que atua junto ao Congresso dos EUA.
A pesquisadora Denilde Holzhacker (ESPM) destacou que o conteúdo e o tom da carta colocam o Brasil entre os países considerados “ameaças” aos interesses americanos — algo incomum mesmo em períodos de tensão histórica, como o da ditadura militar.
Fonte: Oglobo
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