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Meio Ambiente

7 em cada 10 praias do Brasil estão contaminadas por microplásticos; Paraná, São Paulo e Pernambuco são os mais afetados

Maior levantamento do tipo revela fragmentos plásticos em 69% do litoral brasileiro e alerta para riscos à biodiversidade e à saúde humana

Um estudo inédito, publicado na revista Environmental Research em 24 de setembro, revelou que 69,3% das 1.024 praias brasileiras analisadas estão contaminadas por microplásticos – fragmentos de plástico com menos de cinco milímetros, semelhantes a grãos de arroz. O levantamento aponta impactos potenciais à biodiversidade, à segurança alimentar, à saúde humana e às atividades econômicas ligadas ao ambiente marinho e costeiro.

A pesquisa faz parte do projeto MicroMar, liderado pelo Instituto Federal Goiano (IF Goiano), e é considerada o maior levantamento padronizado sobre o tema no Sul Global.

“O MicroMar representa um marco porque, pela primeira vez, conseguimos ter uma visão abrangente e sistemática da contaminação por microplásticos ao longo das praias brasileiras. Isso gera um banco de dados inédito, que pode ser usado de maneiras muito concretas”, explicou Guilherme Malafaia, coordenador do estudo.


Estados e praias mais afetados

Entre os estados com maior concentração média de microplásticos estão Paraná, Sergipe, São Paulo e Pernambuco. A praia Barrancos, em Pontal do Paraná (PR), liderou o ranking, com 3.483,4 fragmentos por quilograma de areia. No entanto, ao se considerar o Índice de Perigo do Polímero (PHI) – que avalia a toxicidade dos plásticos – estados como Santa Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo, Maranhão e Pará registraram os maiores valores.

Combinando quantidade e toxicidade através do Índice de Risco Ecológico Potencial (PERI), os estados mais críticos foram Paraná, São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Piauí e Maranhão, com destaque para a praia Paraíso, em Torres (RS), que, embora apresente menor densidade de fragmentos, concentra materiais mais tóxicos, como PVC.


Impactos ambientais e à saúde humana

Segundo Guilherme Malafaia, os microplásticos podem ser ingeridos por organismos marinhos, interferindo na nutrição, crescimento e reprodução das espécies, o que provoca efeitos em cascata no ecossistema.

Para os seres humanos, a preocupação principal é indireta, por meio do consumo de peixes e frutos do mar contaminados. A presença de microplásticos na areia, para banhistas, não representa risco direto imediato, mas os fragmentos podem absorver metais pesados, pesticidas e microrganismos patogênicos, aumentando a exposição a toxinas.

O estudo identificou ainda que proximidade de rios, galerias de esgoto e áreas urbanizadas é determinante para a poluição. Entre as medidas apontadas pelos pesquisadores estão: controle do lixo antes de chegar ao mar, redução da carga plástica em bacias hidrográficas e implementação de monitoramento regional contínuo.


Estratégia nacional para combater o problema

O Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) destacou a importância da Estratégia Nacional Oceano sem Plástico (ENOP), publicada em 1º de outubro, que visa prevenir, reduzir e eliminar a poluição por plástico nos oceanos até 2030.

O plano prevê ações “da fonte ao mar”, atuando em todo o ciclo de vida do plástico – da extração de matérias-primas à destinação final – e deve ser detalhado em um plano de ação a ser lançado em 90 dias. Entre os objetivos estão estimular alternativas sustentáveis, revisar subsídios que impactam o meio ambiente e proteger cadeias alimentares e recursos naturais.

Para o primeiro autor do estudo, Thiarlen Marinho da Luz, a conscientização existe, mas falta ação efetiva da sociedade:

“As pessoas sabem que tartarugas comem sacolas e que remédios podem afetar peixes. Agora, se elas realmente se sensibilizam com a causa, acredito que sim.”


Por Maurício Frighetto — Publicado em 08/10/2025